
Dias atrás, assistindo à apresentação de um membro do IPCC, Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima, sugeri envolver a participação dos militares na solução do problema. Lembrei que, nos anos 1970, as Forças Armadas foram fundamentais para que Clair Patterson enfrentasse a poderosa indústria do petróleo. A história da tetraetila de chumbo é fantástica — uma vitória extraordinária de um cientista contra um bloco de interesses fortíssimos.
Em 1947, o cientista Harrison Brown descobriu o decaimento do urânio em chumbo e logo percebeu que, medindo a quantidade de chumbo nas rochas, seria possível calcular a idade da Terra. Ele escolheu Clair Patterson para realizar a pesquisa — um aluno brilhante e experiente com o espectrômetro de massa.
A pesquisa consistia em medir a quantidade de chumbo dentro de cristais de zircão, pois, uma vez formado o cristal, nenhum urânio poderia entrar ou sair — apenas decair em chumbo.
No entanto, Patterson não conseguia resultados, pois tudo estava contaminado por chumbo. Após oito anos de trabalho, ele construiu a primeira sala ultralimp do mundo e, finalmente, conseguiu calcular a idade da Terra: 4,5 bilhões de anos.
Depois, passou a se dedicar a provar que a tetraetila de chumbo, usada na gasolina, representava uma ameaça à humanidade. Por isso, perdeu financiamentos e sofreu pressões. Foi com o apoio do Exército e da Marinha que conseguiu continuar suas pesquisas e, assim, eliminar o chumbo da gasolina — um feito que salvou milhões de vidas. As Forças Armadas foram fundamentais então, e podem ser novamente, desta vez contra os interesses dos combustíveis fósseis.
Segundo o IPCC e o Climate Policy Initiative, para limitar o aquecimento global a 1,5 °C, seriam necessários cerca de US$ 4 trilhões por ano em investimentos — uma quantia gigantesca. Para se ter uma ideia, o PIB das 23 maiores economias chega a quase US$ 100 trilhões. Seria necessário destinar pouco mais de 4% do PIB, algo difícil, embora viável.
Uma alternativa seria um acordo global para cortar os gastos militares em 50% e redirecionar esses recursos para a transição energética. Em 2024, os gastos militares mundiais atingiram US$ 2,7 trilhões, segundo o Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (SIPRI) e o International Institute for Strategic Studies (IISS). Considerando apenas os 10 países que mais gastam, chegamos a US$ 2 trilhões.
Vale lembrar que a energia verde é um excelente negócio. Energias como a eólica e a solar já são competitivas o bastante para justificar os investimentos — e tecnologias promissoras, como as células a etanol, estão próximas de entrar no mercado.
No Natal de 2020, escrevi uma proposta de tese que denominei Projects for Peace (Projetos para a Paz), propondo a transferência gradual das verbas de defesa para a transição energética. Enviei o projeto a diversos políticos e jornais dos EUA e da Europa. A ideia era iniciar com 2% em 2022 e aumentar agressivamente até chegar a 50% em 2032. No longo prazo, propus limitar os gastos em defesa a 1% do PIB.
Não tenho o poder do IPCC ou da COP-30, mas se quisermos convencer os países a aderir, será fundamental ter o apoio dos militares. Acredito que essa missão seja mais viável do que tentar convencer políticos que ainda defendem as termelétricas fósseis.
Se Patterson conseguiu, nós também conseguiremos!