
Por Taís Hirschmann
Uma doença silenciosa, porém perigosa – e muito. Pesquisas têm apontado que a diabetes mata mais do que o câncer e o HIV juntos. Dados da Universidade Estadual do Ceará (Uece) publicados na Revista Latino-Americana de Enfermagem em 2023 mostram que foram registrados 601 mil óbitos relacionados com diabetes mellitus, de 2010 a 2020, no Brasil.
Essas informações são preocupantes e destacam a importância de um diagnóstico precoce.
Segundo a endocrinologista Milenne Rios da Silva, a diabetes é uma doença decorrente, na maioria das vezes, de produção diminuída ou alterada de insulina pelo pâncreas e/ou de modificações na ação da insulina (no fígado, músculos e tecido adiposo), ocasionando mudanças no metabolismo, principalmente da glicose.
Existem três principais tipos de diabetes: tipo 1, tipo 2 e gestacional. Há ainda outros, específicos, relacionados a defeitos genéticos. O mais comum é o tipo 2.
Os principais sintomas da diabetes tipo 1 são: aumento da vontade de urinar, sede constante, fome frequente, perda de peso, fraqueza, fadiga, nervosismo, mudanças de humor, náusea e vômito. Já os principais sinais da tipo 2 são: infecções frequentes, alteração visual (visão embaraçada), dificuldade na cicatrização de feridas, formigamento nos pés e furúnculos. E os sintomas da diabetes gestacional são: sede anormal e cansaço extremo.
De acordo com Milenne Rios, o tratamento da diabetes consiste na educação do paciente, orientação alimentar adequada, uso de medicações (seja via oral ou subcutânea – insulina) e também atividade física regular.
Para a nutróloga Thaís Policário Chagas Stoco, o paciente deve fracionar a alimentação – fazer várias refeições ao longo do dia, e em pequenas quantidades – para evitar os picos de glicemia, em que ocorre um aumento acentuado e rápido da glicose no sangue. Deve também evitar alimentos com alto índice glicêmico, queles com maior capacidade de aumentar os níveis de açúcar no sangue e, portanto, de insulina.
A manutenção do peso corporal adequado é extremamente importante, pois a obesidade está relacionada a uma maior resistência à secreção de insulina, o que piora ainda mais o quadro da diabetes. A dieta deve ser rica em fibras, cereais integrais, proteínas de soja e em alimentos com propriedades antioxidantes resveratrol – suco de uva roxa, molho de tomate, por exemplo) e vitaminas hidrossolúveis (contidas nas frutas e vegetais frescos), pobre em gorduras totais, gordura saturada e colesterol (oriundas de fontes animais, como queijos, carnes e leite integral).
Complicações
O paciente que não segue as recomendações alimentares sugeridas pelo médico corre o risco de sofrer danos pelo estresse oxidativo decorrente da hiperglicemia (carga elevada de açúcar no sangue) com lesão de nervos e vasos sanguíneos. Dentre essas complicações, a nutróloga Thaís Stoco cita a neuropatia periférica (lesões que acometem os nervos periféricos), diminuição da capacidade do corpo em combater infecções e alteração na microcirculação. Essas, em conjunto, podem levar, entre outras consequências, a amputações de membros inferiores, distúrbios da função erétil (impotência), retino-patia diabética (lesão à retina, causada pela diabetes, capaz de provocar a cegueira total) e dislipidemia (alteração nos níveis de colesterol e de triglicerídeos no sangue).
“A diabetes não controlada pode também ser causa ou complicar problemas cardiovasculares, ocasionando ou piorando a hipertensão, contribuindo para o acidente vascular cerebral e o infarto agudo do miocárdio”, alerta Thaís Stoco.
A doença é também a principal causa de insuficiência renal crônica (a nefropatia diabética), levando muitos pacientes a necessitarem de tratamento por hemodiálise.
A endocrinologista Milenne Rios reforça: “As possíveis complicações estão relacionadas principalmente ao sistema vascular, podendo apresentar complicações em nível renal, de retina, neural (a chamada neuropatia diabética)”.
Prevenção
Pacientes com história familiar de diabetes devem ser orientados a manter o peso normal, não fumar, controlar a pressão arterial, evitar medicamentos que potencialmente possam agredir o pâncreas e praticar exercícios regularmente. “A melhor forma de prevenir a diabetes é modificar o estilo de vida, ou seja, adquirir hábitos alimentares saudáveis e praticar atividade física regular para evitar ganho de peso”, diz Milenne Rios.
Já a diabetes tipo 1 e outros tipos específicos, que se devem a defeitos congênitos (anomalias de formação, onde há ausência total ou deficiência na produção de insulina) ou genéticos na produção e/ou ação da insulina, não podem ser prevenidos por meio da alimentação. No entanto, as suas complicações podem e devem ser prevenidas com os mesmos cuidados na dieta e modificações no estilo de vida a que os pacientes diabetes tipo 2 devem se submeter.
Doces feitos com adoçante podem ser ingeridos à vontade?
Segundo a nutróloga Thaís Stoco, os açúcares podem ser substituídos por adoçantes, mas existe uma quantidade máxima que pode estar presente nos alimentos, segundo regulamentação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Algumas das substâncias utilizadas como edulcorantes (adoçantes), como o sorbitol, o xilitol e o manitol, se usados em excesso, podem causar reações gastrointestinais como flatulência (gases) e diarreia.
Além disso, muitas vezes as indústrias substituem o açúcar aumentando outros componentes, como as gorduras, o que pode elevar ainda mais o valor calórico dos produtos, com reflexo na glicemia (quantidade de açúcar no sangue). Deve-se, então, preparar sobremesas com o mínimo possível de adoçantes, e alternar seu uso, evitando utilizar sempre os mesmos, e dando preferência para os não nutritivos (que não possuem calorias), a fim de minimizar os possíveis efeitos colaterais.
É bom lembrar também que os doces são feitos de frutas e/ou de leite, e tanto a lactose (que tem como um dos subprodutos a glicose) quanto a frutose (açúcar proveniente das frutas) devem ser usados com moderação, sobretudo pelos diabéticos. A glicose estimula a produção de insulina e a frutose em excesso pode agravar a resistência à insulina, dois grandes problemas do portador da doença.
Alimentação x tratamento
O papel da alimentação, para quem tem diabetes é, sobretudo, o de não adquirir excesso de peso.
Isso ajuda o organismo a melhorar o uso da insulina disponível, diminuindo os níveis elevados de glicose sanguínea, o que auxilia, retarda ou reduz a necessidade de medicamentos. Além disso, manter-se no peso adequado ajuda a não aumentar o índice de gordura no sangue (colesterol e triglicérides) e a hipertensão arterial, que são fatores de risco para doenças cardiovasculares.
Os níveis de glicemia devem ser mantidos dentro da faixa da normalidade, evitando picos de hiper e hipoglicemia (valores altos e baixos, respectivamente, de glicose no sangue).
Deve-se oferecer ao paciente diabético uma dieta balanceada e adequada, contendo todos os macro (proteínas, lipídeos e carboidratos) e micronutrientes (vitaminas e minerais) necessários.
Diabetes x estresse
O estresse tem influência em diabéticos, pois nos episódios de tensão são liberados alguns hormônios que atrapalham a função da insulina, os chamados hormônios contrainsulínicos, como por exemplo o cortisol.
Por isso, o ideal é que o diabético evite situações de preocupação e tenha acompanhamento psicológico profissional.

*Matéria publicada originalmente na Revista Samp nº 20, de 2013 e atualizada em 2025
FONTE: ES BRASIL