
A produção de azeite no Espírito Santo está em plena expansão e começa a ganhar destaque no cenário nacional e internacional. O estado, que tradicionalmente não figurava entre os principais polos da olivicultura no Brasil, hoje conta com aproximadamente 300 hectares de área plantada com oliveiras, envolvendo cerca de 130 produtores distribuídos em 17 municípios da região serrana — que possui vocação natural para o desenvolvimento dessa atividade.
Um dos exemplos desse crescimento é o produtor Leonardo Brioschi Altoé, que recentemente conquistou duas medalhas internacionais com o azeite que produz no município de Afonso Cláudio. Segundo ele, mais do que o prêmio em si, o reconhecimento comprova a qualidade do produto:
“Fiquei muito satisfeito, porque isso comprova a qualidade do produto, atestada por um júri internacional, por um órgão mundial do azeite, que é a IOOC. Eles deram sua assinatura de que o produto é realmente bom. Isso é o mais importante para mim — não a medalha em si, mas a comprovação da qualidade.”
Leonardo conta que começou a investir no cultivo da oliveira em 2017, quando adquiriu a propriedade exclusivamente para esse fim.
“Passei quase um ano preparando a propriedade, porque ela não tinha nada: não tinha energia, não tinha água, e a terra era toda coberta por eucaliptos. Tivemos que retirar o eucalipto, destocar, construir a casa, colocar energia, abrir poço… Só depois começamos o plantio, no final de 2018 e início de 2019”, relembra.
A escolha do local foi criteriosa, já que ele buscava uma área acima de 1.100 metros de altitude para garantir as condições ideais de cultivo. “Fiquei alguns meses procurando até encontrar um lugar dentro do padrão de altitude que eu queria e que também coubesse no meu orçamento”, relata.
No Espírito Santo, são cultivadas quatro variedades de oliveiras adaptadas ao clima da região, por exigirem menos frio para frutificar: arbequina (espanhola), coroneique (grega), arbozana (espanhola) e grápulo (italiana). Apesar da adaptação, o clima ainda é o maior desafio da produção.
“Se não tem frio, não produz. Tanto é que produziu bem pouquinho neste último ano. O último ano que fez frio foi 2022, mas minhas plantas ainda eram novas. Para ser algo que compense financeiramente, tem que fazer mais frio. Se for como no último ano, a gente não ganha dinheiro, não paga nem as contas da propriedade”, explica.
A geografia acidentada da região serrana capixaba também dificulta a mecanização da colheita.
“Aqui não tem área plana para usar máquinas. A colheita é toda manual — feita à mão ou com uma maquininha parecida com a derriçadeira de café, só que com os ‘dedinhos’ mais longos. No Rio Grande do Sul, por exemplo, eles têm máquinas que abraçam a árvore e balançam, mas aqui isso não é possível por causa do terreno”, explica.
Para o processamento das azeitonas, Leonardo utiliza a estrutura da Associação Olives, localizada em Santa Teresa.
“O governo do estado, junto com a prefeitura, conseguiu comprar as máquinas e organizar um local para a fábrica, que está lá à disposição de todos os associados. Temos um grupo grande de produtores, mas poucos têm as máquinas. A maioria precisa da associação para fazer o azeite”, conta.
A associação funciona mediante o pagamento de uma anuidade e, além do processamento, também auxilia na compra de insumos e embalagens, buscando melhores preços para os associados.
Sobre o perfil do seu azeite, Leonardo comenta que, embora não seja certificado como orgânico, sua última produção foi praticamente nesse padrão.
“Não usamos defensivos, veneno, nada na lavoura, porque achamos que não ia produzir mesmo, por causa da pouca quantidade de frio. Então, acabou sendo como se fosse orgânico.”
Ele também destaca a subjetividade na avaliação sensorial do azeite:
“Estava explicando que o azeite puxa a sua memória degustativa. Por exemplo, quando fiz um curso na Espanha, provei um azeite e falei: ‘isso é goiaba’. Lá eles não conhecem goiaba, mas eu senti. Então, é algo muito particular. Não dá para dizer exatamente o que agradou aos jurados, mas o importante é que o produto foi considerado de qualidade tanto na análise degustativa quanto olfativa.”
O desenvolvimento da olivicultura no Espírito Santo vem sendo incentivado pelo governo estadual, por meio da Secretaria da Agricultura (Seag) e do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper). Desde 2012, com a implantação da primeira Unidade de Observação em Caldeirão, no município de Santa Teresa, o cultivo da oliveira se expandiu e atualmente abrange 20 municípios capixabas.
O foco do projeto é a produção de azeite extravirgem de baixa acidez, visando a qualidade superior do produto. O primeiro azeite capixaba, ainda em caráter experimental, foi produzido em 2018. Já em 2021, ocorreu a extração do primeiro azeite extravirgem proveniente de plantios comerciais, com processamento feito em solo capixaba. Atualmente, o Espírito Santo já conta com seis marcas de azeite extravirgem, com aroma e sabor diferenciados, genuinamente capixabas.
Segundo dados da Pesquisa Pecuária Municipal (PAM/IBGE) de 2022, foram colhidos cerca de 300 hectares, com produção aproximada de 6 toneladas e produtividade média de 200 quilos por hectare, envolvendo cerca de 180 produtores em 20 municípios da região serrana.
Apesar dos avanços, Leonardo Brioschi Altoé reforça que a produção ainda está em fase de consolidação: “Eu diria que estamos numa linha muito tênue entre o que é possível e o que não é. Em um ano sem frio, o Espírito Santo não consegue produzir. Em um ano com frio, produz. A qualidade pode ser tão boa quanto a de qualquer outro azeite do Brasil ou do mundo, mas a quantidade ainda depende de muita pesquisa, adaptação e técnicas de plantio. Temos muitas respostas ainda a serem buscadas.”
Assim, a olivicultura capixaba segue avançando — enfrentando desafios, mas também com a esperança de firmar o Espírito Santo como um dos novos polos da produção de azeite de excelência no Brasil.
FONTE: JOÃO OTÁVIO CARVALHO – ES HOJE