
Um estudo realizado pela Polícia Científica do Espírito Santo revelou que 42% das vítimas fatais de sinistros de trânsito, entre os anos de 2013 e 2023, haviam consumido álcool ou outras drogas antes dos acidentes. Os dados foram extraídos a partir de laudos cadavéricos e toxicológicos do Instituto Médico Legal (IML) de Vitória e do Laboratório de Toxicologia Forense (LabTox), com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (FAPES), da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e do IFES – Campus Serra.
De acordo com a chefe do LabTox, Mariana Dadalto, o levantamento utilizou uma ferramenta de inteligência artificial para processar automaticamente informações como sexo, idade, cor da pele e presença de substâncias psicoativas nas vítimas. “Pelo painel é possível observar que a maioria das vítimas eram homens, pardos, jovens adultos de 18 a 24 anos. Em 42% dos casos, foi detectada a influência de álcool e/ou substâncias como cocaína, anfetaminas e canabinoides”, afirmou a toxicologista.
O álcool foi a substância mais prevalente, presente em 32% dos exames positivos, seguido da cocaína (11%), canabinoides (8%) e anfetaminas (1%).
“A faixa etária com maior positividade foi entre 24 e 39 anos. Mais de 50% das vítimas nessa faixa apresentavam pelo menos uma dessas substâncias no organismo”, destacou Dadalto.
Ainda segundo ela, os dados revelam que, mesmo com políticas públicas adotadas nos últimos anos, muitas pessoas continuam dirigindo sob efeito de substâncias psicoativas. “O painel pode balizar políticas públicas mais eficazes, principalmente voltadas aos homens jovens, que aparecem como grupo mais vulnerável”, acrescentou.
Metanfetamina
Um dado que chamou a atenção dos especialistas foi a identificação, pela primeira vez no Espírito Santo, da substância metanfetamina em uma vítima fatal de trânsito. O caso aconteceu no fim de 2024, envolvendo um caminhoneiro que sofreu um acidente no município de Aracruz.
“A metanfetamina foi detectada pelo LabTox e também confirmada por análises do laboratório de química forense, o que acendeu um alerta”, explicou a diretora do Instituto de Laboratórios e Análises Forenses (ILAF), Caline Airão Destefani.
Segundo ela, a substância vinha sendo identificada em comprimidos conhecidos como “rebite”, usados clandestinamente por motoristas para se manterem acordados por longos períodos. “O rebite já representa um risco, por conter estimulantes diversos e não regulamentados. Agora, ao se verificar a presença de metanfetamina, o perigo se intensifica. O condutor está ingerindo algo cujo conteúdo é desconhecido e potencialmente letal”, alertou.
A metanfetamina é uma droga estimulante do sistema nervoso central, comumente usada de forma recreativa, mas que, no trânsito, pode causar aceleração excessiva, dificuldade de frenagem e comprometimento da coordenação motora – fatores que aumentam drasticamente o risco de acidentes fatais.
“O comprimido pode conter desde cafeína até substâncias proibidas no Brasil. A descoberta de metanfetamina nos ‘rebites’ mostra o quanto é urgente reforçar o combate a esse tipo de substância nas estradas”, concluiu Caline.
O painel pericial de toxicologia divulgado pela Polícia Científica do Espírito Santo é o primeiro com dados abertos do tipo no Brasil e deve servir de base para a formulação de políticas públicas mais centradas e eficazes no combate à violência no trânsito.
FONTE: JOÃO OTÁVIO CARVALHO – ES HOJE