
Por Erik Oakes
Neste sábado, 17 de maio, celebra-se o Dia Mundial da Reciclagem — uma data que, no Espírito Santo, ganha significado especial. Neste ano, completam-se 30 anos do fim das atividades do lixão de São Pedro, em Vitória, um marco que transformou a gestão de resíduos local e posicionou o Espírito Santo como referência nacional em reciclagem e logística reversa.
O antigo depósito a céu aberto, que por décadas representou um grave problema ambiental e de saúde pública, deu lugar a uma nova realidade baseada em inovação, sustentabilidade e inclusão social. A transformação foi impulsionada por investimentos públicos e privados, além de mudanças no comportamento da sociedade.
Apesar dos avanços locais, o cenário nacional ainda apresenta desafios significativos. Segundo dados da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), o Brasil recicla apenas 4% dos resíduos sólidos urbanos, índice muito abaixo da média de 16% observada em países com níveis de desenvolvimento semelhantes, como Chile e Argentina. Fatores como falta de infraestrutura, baixa conscientização da população e ausência de políticas públicas eficazes contribuem para esse desempenho insatisfatório.
A coleta seletiva, por exemplo, está presente em apenas 60,5% dos municípios brasileiros, conforme levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) . Além disso, muitos brasileiros ainda não separam corretamente os resíduos recicláveis, o que dificulta o processo de reaproveitamento e aumenta o volume de lixo destinado a aterros sanitários e lixões.
No entanto, iniciativas como o Plano Nacional de Resíduos Sólidos (Planares) estabelecem metas ambiciosas para o futuro. O plano prevê que, até 2040, o país recicle cerca de 48% de todos os resíduos gerados, promovendo a economia circular e reduzindo os impactos ambientais . Para alcançar esse objetivo, será necessário investir em infraestrutura, educação ambiental e políticas de incentivo à reciclagem.
Cenário capixaba
No Espírito Santo, empresas como a Marca Ambiental operam 14 ecoindústrias que processam materiais como papel, plástico, vidro, resíduos da construção civil e orgânicos.
“Hoje, vemos resultados diversos a partir de decomposição do resíduos; dos resíduos da construção, através dos agregados que viram brita e areia reciclada; e dos pneus inservíveis que podem gerar danos ao meio ambiente com queimas, mas com a logística reversa tornam-se novas matérias-primas como borrachas para geração de novos produtos”, pontuou Gustavo Ribeiro, diretor operacional da Marca Ambiental e Grupo Marca.
Biogás e biometano: o futuro da energia renovável no ES
A inovação também está presente. Além de transformarem os resíduos em novos produtos, essas unidades também geram energia em usinas termelétricas de biogás. O processo para geração de energia limpa e renovável ocorre a partir da captação do Biogás em poços do Aterro Sanitário. Por meio de motores a combustão de alta performance e tecnologia de primeira linha, o Biogás é queimado e gera energia elétrica.
“Hoje, a geração de energia por meio do biogás já é uma realidade e nos coloca na vanguarda para a matriz energética do ES e na economia circular do País”, completa Diogo Ribeiro, diretor de energias renováveis da Marca Ambiental e Grupo Marca.
O Espírito Santo também caminha para ter sua primeira usina de biometano – um gás natural renovável que pode ser utilizado em diversas aplicações, desde indústrias até residências, e até mesmo como combustível veicular. As obras de preparação do local, nas instalações da Marca Ambiental em Cariacica, e as bases civis estão em curso para receber a unidade de purificação.
A promessa é de que a usina – uma parceria da Marca Ambiental com a a Air Liquide – tenha capacidade de processar 2.500 metros cúbicos por hora de biogás, proveniente da decomposição dos resíduos do aterro de Cariacica, em biometano. A empresa prevê que a nova planta estará em funcionamento até o segundo semestre de 2025.
“Esse investimento está em sintonia com aquilo que a gente deseja, que é ser um estado inovador, com capacidade de fazer a transição energética e que também representa o bom momento do Espírito Santo em ter um bom ambiente para os negócios. O biogás oriundo do aterro de resíduos sólidos vai gerar o biometano que poderá ser utilizado pela indústria e também no abastecimento de residências. Para isso, o nosso ambiente regulatório foi fundamental ao permitir que esse biometano possa ser injetado na rede de gás da ES GÁS”, destacou o governador Renato Casagrande, durante coletiva no mês passado.
A experiência capixaba demonstra que, com planejamento, investimento e engajamento da sociedade, é possível transformar desafios ambientais em oportunidades de desenvolvimento econômico e social.
FONTE : ES BRASIL