Maioria das crianças revela abusos na escola, diz delegada

A delegada explicou que qualquer ato sexual com menores de 14 anos é considerado estupro de vulnerável.

Titular da Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), delegada Thais Cruz - Foto: divulgação/PCES -

Você já ouviu falar no Maio Laranja? É o mês dedicado à campanha nacional de conscientização sobre o combate ao abuso e à exploração sexual de crianças e adolescentes. Nesta sexta-feira (16), escolas de todo o Espírito Santo estão recebendo policiais, psicólogos e assistentes sociais para conversar com os alunos sobre o que é o abuso, como identificá-lo e como fazer denúncias.

A titular da Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), delegada Thaís Cruz, ressaltou que, na maioria dos casos, as crianças revelam os abusos na escola, e não em casa.

“Atualmente, a denúncia não depende do responsável legal da criança ou adolescente. Ela pode chegar até a equipe policial por meio da escola, do Conselho Tutelar ou até mesmo por denúncia anônima, que é um canal importante. A partir disso, os casos são apurados pela delegacia. A grande maioria das denúncias que recebemos vem de crianças que falaram com professores, pedagogos — e não com os responsáveis em casa”, explicou.

O que caracteriza o abuso sexual infantil

A delegada explicou que qualquer ato sexual com menores de 14 anos é considerado estupro de vulnerável.

“Isso inclui toques nas regiões íntimas, encostar, passar a mão superficialmente, mostrar genitais, masturbação. Todos esses atos se enquadram como crime, mesmo sem o contato físico direto”, esclareceu Thaís Cruz.

O abusador está geralmente próximo da vítima

Segundo a delegada, o agressor costuma ser alguém próximo da criança.

“Na maioria dos casos, o abusador está dentro de casa. Essa pessoa se aproveita da confiança da vítima, é alguém que ela tem como referência. O convívio diário facilita os abusos e dificulta a denúncia. Muitos agressores manipulam as crianças emocionalmente, dizendo que, se contarem, vão destruir a família. É um uso cruel do vínculo afetivo”, afirmou.

Dados da Polícia Civil do Espírito Santo (PCES) apontam que 67% das vítimas têm até 13 anos de idade81% são do sexo feminino e 58% dos abusos acontecem dentro da própria casa.

“Os abusadores escolhem essas idades porque acreditam que a criança não terá coragem de falar — e, se falar, ninguém acreditará. Além disso, crianças nessa faixa etária são mais suscetíveis a manipulações, como promessas de presentes ou dinheiro”, disse a delegada.

Riscos das redes sociais

Thaís Cruz também alertou sobre os riscos do acesso precoce às redes sociais.

“Crianças e adolescentes estão entrando cada vez mais cedo no mundo virtual, ganhando celulares e tablets. Muitas vezes ficam trancadas nos quartos, navegando sozinhas. Por isso, pedimos que pais e responsáveis fiscalizem o uso desses aparelhos. É essencial manter o controle sobre o que os filhos acessam”, enfatizou.

Ela ainda deu orientações práticas para os pais:

“Os pais devem ter acesso total aos celulares e tablets dos filhos. Aos 12 anos, por exemplo, eles querem mostrar independência, mas ainda precisam de supervisão. Existem aplicativos que ajudam a limitar o tempo de uso e controlar o conteúdo acessado. É obrigação legal dos pais proteger os filhos, e isso inclui o acompanhamento nas redes sociais.”

Maioria das crianças revela abusos na escola, diz delegada
Foto: divulgação/Polícia Civil

O papel dos responsáveis

A delegada reforçou que os adultos devem manter diálogo aberto com as crianças.

“Tenham uma escuta ativa. Muitas vezes os pais não entendem mudanças de comportamento, agressividade ou automutilações. É preciso baixar a guarda, conversar e tentar entender o que está acontecendo.”

Falar sobre o abuso é um grande desafio para as vítimas, principalmente quando o agressor faz parte da família.

“É difícil para a criança contar. Por isso, é essencial observar os sinais, mudanças no comportamento, e estar presente como uma referência de confiança”, disse Thaís.

Número de casos caiu em 2025

Entre janeiro e abril de 2024, foram registrados 623 casos de estupro de vulnerável no Espírito Santo. No mesmo período de 2025, o número caiu para 539 casos.

Segundo a delegada, a prevenção tem sido a principal arma contra esse tipo de crime.

“Estamos atuando de forma preventiva. Realizamos palestras nas escolas, conversando diretamente com crianças e adolescentes. Muitas vezes, eles não sabem que estão sendo vítimas — só com o tempo e informação é que compreendem o que estão passando.”

As ações acontecem durante todo o ano, mas se intensificam em maio, por conta da campanha Maio Laranja.

“A Polícia Civil participa da campanha com ações preventivas, especialmente em maio, quando há uma mobilização nacional. A criança que recebe informação tem mais chances de se proteger no futuro”, finalizou.

18 de Maio: Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual

Polícia Civil do Espírito Santo relembra que o 18 de maio foi instituído pela Lei Federal nº 9.970/2000, em memória de Araceli Crespo, uma criança de apenas 8 anos que foi sequestrada, violentada e assassinada em 1973, em Vitória (ES). A data simboliza a luta pela proteção de crianças e adolescentes contra o abuso e a exploração sexual.

FONTE: Esthefany Mesquita – ESHOJE