Concreto contaminado ameaça estrutura de imóveis no ES construídos entre 2012 e 2019

Um alerta sobre o risco de colapso estrutural em edificações construídas entre 2012 e 2019 foi levantado pelo engenheiro Maurício Ceotto, que denuncia o uso inadequado do Pó de FGD

Dano em um dos edifícios no ES diante ao uso de concreto com excesso de FGD. Centenas de prédios de dezenas de construtoras estariam em risco. Foto: reprodução -

Um alerta sobre o risco de colapso estrutural em edificações construídas entre 2012 e 2019 foi levantado pelo engenheiro Maurício Ceotto, que denuncia o uso inadequado do Pó de FGD, um subproduto da aciaria da Arcelor Mittal. O material, originalmente tratado como resíduo industrial, foi incorporado ao concreto sem a realização de testes adequados, resultando na contaminação por íons de cloreto, que aceleram a corrosão do aço das estruturas.

Famosas construtoras de edifícios no Espírito Santo, inclusive em Vila Velha teria utilizado o material.

De acordo com Ceotto, o produto é utilizado para reduzir custos e melhorar a trabalhabilidade do concreto, substituindo parte do cimento. No entanto, a aplicação excessiva comprometeu drasticamente a durabilidade das edificações, que deveriam ter uma vida útil de 50 anos, conforme normas brasileiras. Em alguns casos, essa resistência foi reduzida em até dez vezes, tornando prédios recém-construídos estruturalmente comprometidos.

Para o engenheiro, o FGD nunca deveria ter sido usado na construção.

“Os íons de cloreto em contato com o aço, geram oxidação, comprometendo totalmente a “vida útil” da estrutura. O primeiro passo para os moradores identificarem o uso é uma vistoria detalhada para constatação de possíveis trincas e fissuras que decorrem da oxidação do aço. Também estamos buscando junto ao Ministério Público que todas as concreteiras que adquiriram o Pó de FGD identifiquem todas as estruturas que foram contaminadas”.

A denúncia levou à realização de uma audiência na Assembleia Legislativa, no dia 25 de abril de 2025, para debater o problema. No entanto, Ceotto destaca que o processo de responsabilização das empresas envolvidas enfrenta obstáculos desde 2021, devido a tentativas de arquivamento por parte de grandes corporações do setor

Diante da gravidade da situação, o Procurador-Geral de Justiça do Espírito Santo, Francisco Martínez Berdeal, decidiu pela não homologação do arquivamento do inquérito civil, garantindo o aprofundamento das investigações. A apuração envolve o impacto do concreto contaminado na segurança das edificações e a possível lesão aos consumidores.

O Conselho Superior do Ministério Público também discordou do arquivamento inicial, reforçando a necessidade de análise detalhada dos empreendimentos afetados. O corregedor-geral Gustavo Modenesi Martins da Cunha solicitou novas diligências para identificar quais imóveis receberam o concreto contaminado e verificar possíveis danos estruturais.

O caso expõe um problema grave na construção civil, evidenciando a necessidade de fiscalização rigorosa e transparência na utilização de materiais para garantir a segurança dos moradores.

Autoridades e especialistas seguem acompanhando os desdobramentos da investigação e buscam soluções para mitigar os impactos dessa prática irregular.

FONTE: VILA VELHA EM DIA