
Um alerta sobre o risco de colapso estrutural em edificações construídas entre 2012 e 2019 foi levantado pelo engenheiro Maurício Ceotto, que denuncia o uso inadequado do Pó de FGD, um subproduto da aciaria da Arcelor Mittal. O material, originalmente tratado como resíduo industrial, foi incorporado ao concreto sem a realização de testes adequados, resultando na contaminação por íons de cloreto, que aceleram a corrosão do aço das estruturas.
Famosas construtoras de edifícios no Espírito Santo, inclusive em Vila Velha teria utilizado o material.
De acordo com Ceotto, o produto é utilizado para reduzir custos e melhorar a trabalhabilidade do concreto, substituindo parte do cimento. No entanto, a aplicação excessiva comprometeu drasticamente a durabilidade das edificações, que deveriam ter uma vida útil de 50 anos, conforme normas brasileiras. Em alguns casos, essa resistência foi reduzida em até dez vezes, tornando prédios recém-construídos estruturalmente comprometidos.
Para o engenheiro, o FGD nunca deveria ter sido usado na construção.
“Os íons de cloreto em contato com o aço, geram oxidação, comprometendo totalmente a “vida útil” da estrutura. O primeiro passo para os moradores identificarem o uso é uma vistoria detalhada para constatação de possíveis trincas e fissuras que decorrem da oxidação do aço. Também estamos buscando junto ao Ministério Público que todas as concreteiras que adquiriram o Pó de FGD identifiquem todas as estruturas que foram contaminadas”.
A denúncia levou à realização de uma audiência na Assembleia Legislativa, no dia 25 de abril de 2025, para debater o problema. No entanto, Ceotto destaca que o processo de responsabilização das empresas envolvidas enfrenta obstáculos desde 2021, devido a tentativas de arquivamento por parte de grandes corporações do setor
Diante da gravidade da situação, o Procurador-Geral de Justiça do Espírito Santo, Francisco Martínez Berdeal, decidiu pela não homologação do arquivamento do inquérito civil, garantindo o aprofundamento das investigações. A apuração envolve o impacto do concreto contaminado na segurança das edificações e a possível lesão aos consumidores.
O Conselho Superior do Ministério Público também discordou do arquivamento inicial, reforçando a necessidade de análise detalhada dos empreendimentos afetados. O corregedor-geral Gustavo Modenesi Martins da Cunha solicitou novas diligências para identificar quais imóveis receberam o concreto contaminado e verificar possíveis danos estruturais.
O caso expõe um problema grave na construção civil, evidenciando a necessidade de fiscalização rigorosa e transparência na utilização de materiais para garantir a segurança dos moradores.
Autoridades e especialistas seguem acompanhando os desdobramentos da investigação e buscam soluções para mitigar os impactos dessa prática irregular.
FONTE: VILA VELHA EM DIA