De carne a biscoito: USP lista alimentos que tiram minutos de vida

Estudo da USP associa consumo de alimentos populares no Brasil à perda ou ganho de minutos de vida saudável

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Um estudo feito por nutricionistas da Universidade de São Paulo (USP) revelou que hábitos alimentares comuns no Brasil podem custar minutos de vida saudável. O levantamento analisou 1.141 alimentos consumidos no país e os classificou com base no impacto à saúde e ao meio ambiente.

Utilizando o Índice Nutricional da Saúde (Heni), a pesquisa publicada nesta sexta-feira (9/5) no International Journal of Environmental Research and Public Health quantificou os efeitos do consumo alimentar em minutos de vida perdidos ou ganhos.

O valor médio dos alimentos mais consumidos no Brasil foi de -5,89 minutos, com alimentos variando de tirar 39 minutos de vida a até adicionar 17 minutos, a depender da escolha. O valor está definido por porção consumida.

O estudo não se restringiu a aspectos nutricionais. Também foram avaliadas as emissões de gases de efeito estufa e o uso de água, integrando saúde humana e sustentabilidade ambiental em um único indicador.

Ultraprocessados lideram perda de saúde

Entre os alimentos com maior impacto negativo, os ultraprocessados se destacaram. Biscoitos recheados lideraram, com -39,69 minutos de vida saudável por cada porção, mas todos os biscoitos tiveram desempenho ruim.

Os sete alimentos ultraprocessados mais presentes na dieta brasileira corresponderam a 13% da ingestão calórica média diária. Em conjunto, esses produtos apresentaram Heni médio de -16,61 minutos, reforçando a associação entre o alto processamento industrial e risco à saúde.

A lista dos mais prejudiciais foi seguida de carne suína (-36,09), margarina (-24,76), carne bovina (-21,86) e biscoitos salgados (-19,48).

Por outro lado, alimentos como peixe de água doce, banana e feijão mostraram efeito contrário. O consumo de peixe adicionou em média 17,22 minutos de vida saudável. Banana e feijão somaram 8,08 e 6,53 minutos, respectivamente.


A lista dos alimentos mais consumidos por brasileiros (e como eles impactam em nosso tempo de vida)

  • Arroz: -1 minuto.
  • Banana: +8 minutos.
  • Biscoito doce: -16 minutos.
  • Biscoito recheado: -39 minutos.
  • Biscoito salgado: -19 minutos.
  • Bolo simples: -5 minutos.
  • Carne vermelha: -21 minutos.
  • Carne de porco: -36 minutos.
  • Cuscuz: -1 minuto.
  • Feijão: +6 minutos.
  • Frango: -3 minutos.
  • Macarrão: -3 minutos.
  • Mandioca: -1 minuto.
  • Margarina: -24 minutos.
  • Ovos: -2 minutos.
  • Pão com queijo: -11 minutos.
  • Pão francês: -6 minutos.
  • Peixe fresco: +17 minutos.
  • Pizza de muçarela: -9 minutos.

Arroz e feijão entre os mais consumidos

A análise identificou 33 alimentos responsáveis por mais de 68,68% das calorias ingeridas. Desse grupo, 39,47% eram alimentos in natura, como arroz, feijão, carne e frutas.

Entre os cinco itens mais consumidos, todos são não processados: arroz, carne bovina, feijão, frango e carne suína. Apesar de sua alta presença, a carne bovina se destacou negativamente tanto em saúde quanto em impacto ambiental.

A carne vermelha gerou até 21,3 kg de CO₂ equivalente por porção. No uso de água, a pizza de muçarela liderou, com 306,1 litros por porção, indicando que a sustentabilidade também deveria ser levada em conta, sempre que possível, para guiar as escolhas alimentares.

Panela com feijão - Metrópoles
O feijão foi apontado como um dos alimentos mais saudáveis na lista dos mais consumidos pelos brasileiros

Impacto ambiental também foi mensurado

O estudo combinou os dados de Heni com métricas ambientais. Alimentos de origem animal, especialmente carnes, apresentaram altos custos ecológicos. Além da emissão de gases, a produção de carne consome volumes significativos de água doce.

Em contraste, alimentos de base vegetal demonstraram menores impactos. O feijão, além de apresentar bons índices nutricionais, teve baixa emissão de carbono e uso de água reduzido, sugerindo uma alternativa sustentável e benéfica à saúde.

Segundo os autores, os dados oferecem evidências quantitativas que podem embasar políticas públicas. “Essas descobertas reforçam a necessidade de diretrizes alimentares que considerem a sustentabilidade e a realidade regional”, afirma o relatório.

Lista para orientar as escolhas

Os pesquisadores defendem que os resultados devem servir como ferramenta para reavaliar recomendações alimentares. O objetivo seria integrar saúde, cultura alimentar e meio ambiente nas diretrizes que orientam o consumo da população.

Para os nutricionistas que fizeram o estudo, ao destacar os minutos de vida associados a cada alimento, o estudo aproxima o impacto das escolhas alimentares da realidade cotidiana. Comer um biscoito recheado ou um peixe de água doce, por exemplo, passa a ter peso mensurável.

FONTE: METROPOLES