Conselho de Medicina contesta demissão de médico após erro em receita na Serra

CRM-ES alega que médico teve direitos desrespeitados e critica decisão da prefeitura por não garantir ampla defesa antes do desligamento.

A demissão imediata do médico que prescreveu uma dosagem excessiva de ibuprofeno para uma paciente em uma UPA da Serra gerou reação do Conselho Regional de Medicina do Espírito Santo (CRM-ES). Para a entidade, a prefeitura agiu sem garantir os direitos básicos de defesa do profissional.

O caso aconteceu na terça-feira (29), quando a imagem da receita médica — que indicava a ingestão de 600 mg do medicamento a cada duas horas — ganhou repercussão nas redes sociais. A paciente, que procurou atendimento por dores nas costas e na cabeça, percebeu o erro ainda na farmácia da unidade, antes de consumir o remédio. A dosagem foi corrigida por funcionários no local.

Em nota oficial, o CRM-ES criticou a conduta da gestão municipal, afirmando que o desligamento sumário do médico pode violar preceitos fundamentais do Código de Ética Médica, como o direito ao contraditório, à ampla defesa e à presunção de inocência.

“A tomada de decisões como essa, sem apuração adequada, pode configurar abuso de autoridade e exposição indevida do profissional, gerando desdobramentos mais graves do que o próprio erro cometido”, destacou o conselho.

O CRM-ES também afirmou que medidas disciplinares devem obedecer a trâmites transparentes e baseados em provas concretas, respeitando os direitos do profissional envolvido e evitando decisões precipitadas em resposta à pressão pública.

Investigação em análise

O Conselho Regional de Medicina disse que poderá abrir uma sindicância para apurar o caso se houver uma denúncia formal, com os dados do denunciante, do médico e o relato completo da situação. Diante da ampla repercussão, a entidade também admite a possibilidade de instaurar uma investigação de ofício.

Caso sejam constatadas infrações éticas, o processo segue em sigilo, conforme estabelecido pelo Código de Processo Ético Profissional.

Entenda o caso

O médico, que prestava atendimento na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Serra Sede, prescreveu ibuprofeno 600 mg com intervalo de duas horas entre as doses — uma frequência considerada altamente perigosa por especialistas. O uso contínuo dessa dosagem pode causar intoxicação grave, falência renal ou hepática, e até risco de morte, segundo profissionais de saúde.

A Secretaria Municipal de Saúde da Serra informou que o equívoco foi corrigido antes da administração do medicamento e que uma investigação interna foi aberta para apurar o atendimento prestado pelo médico, que acabou sendo desligado do cargo.

Com informações do Jornal Tempo Novo.