Preço do café não deve cair nos supermercados do Brasil após tarifaço de Trump

Perspectiva é do Conselho de Exportadores do Café do Brasil (Cecafé) que vê uma volatilidade no mercado

Nos últimos 12 meses, preço do café avançou 66% no Brasil Foto: Pixabay / Reprodução -

Com uma alta acumulada de 66% nos últimos 12 meses no Brasil, o preço do café não deve ter uma queda a curto prazo nos supermercados e padarias do país. Havia uma expectativa de queda, com o tarifaço anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. No entanto, a instabilidade no comércio mundial gerada pelo protecionismo norte-americano não deve representar um alívio ao bolso dos brasileiros na hora da compra da tradicional bebida. 

A perspectiva é do presidente do Conselho de Exportadores do Café do Brasil (Cecafé), Márcio Ferreira. Nos últimos dias, O TEMPO já havia mostrado uma apreensão da cafeicultura brasileira em relação aos impactos das taxas anunciadas por Trump, não só ao Brasil, mas também a outros países produtores como a Colômbia, Indonésia e Vietnã. Um dos pontos de maior preocupação é com a possibilidade de queda na produção mundial. 

Para o presidente do Cecafé, no entanto, o impacto das ações de Trump sobre o preço não deve ser significativo. Ele lembrou que a escalada dos valores de compra do café teve o auge no ano passado, em função do baixo volume de chuva e da temporada de estiagem no Brasil e nos outros países produtores como Indonésia e Vietnã. Ferreira relembrou, ainda, que o mercado ainda sente reflexos das geadas de 2021 no Sul de Minas e em Goiás. 

“Esses acidentes climáticos, por si só, eles não eram suficientes, no nosso entender, para levar o mercado aos patamares que ele bateu. Mas, obviamente, o acidente climático traz muita volatilidade para o mercado”, disse Márcio Ferreira. Ele lembrou que mesmo em um contexto climático, o Brasil bateu o recorde de exportações para o café, com 50,4 milhões de sacas em 2024. 

O presidente do Cecafé ainda sinalizou que os preços devem demorar a cair nos supermercados. A justificativa é de que supermercados e indústria não repassaram totalmente os aumentos observados na cotação do café. “Quando você olha para os supermercados, o café está precificado para o consumidor considerando que a saca é vendida abaixo dos US$ 300. E hoje estamos ainda na casa dos US$ 340. Então, precisaríamos de uma correção mais acentuada nas bolsas de Nova York e de Londres e no dólar”, completou Márcio Ferreira. 

Vantagem competitiva 

Com uma taxa de 10% sobre os produtos brasileiros, contra alíquotas que chegam a 36% ao Vietnã, o presidente do Conselho de Exportadores não vê tantas vantagens competitivas ao café que sai do Brasil rumo aos Estados Unidos. “O volume de café em grão que o Vietnã exporta para os Estados Unidos não é um volume expressivo, é algo da ordem de 1 milhão e meio de sacas e em um momento de competitividade chegar a 2 milhões. Então, ainda que parte desse café seja substituído pelo Brasil, não representará um ganho potencial de mercado substancial para o Brasil. Até porque a safra brasileira também será menor num todo”, sinalizou Márcio Ferreira. 

Exportações 

No primeiro trimestre deste ano, o balanço do Cecafé contabilizou a exportação de 10,707 milhões de sacas de café, montante 11,3% inferior ao apurado entre janeiro e março do ano passado. Já a receita cambial subiu 54,3% no intervalo, saltando para US$ 3,887 bilhões.

“É compreensível a redução no volume de embarques após sairmos de um ano recorde em 2024 e de três safras que não alcançaram seu potencial produtivo total. Além disso, persistem os gargalos logísticos nos portos do país, que impactam o desempenho das remessas ao exterior e oneram ainda mais o processo aos exportadores”, explicou Márcio Ferreira.

Por outro lado, conforme o presidente do Cecafé, o crescimento da receita reflete as cotações elevadas no mercado internacional, cenário que, porém, pode apresentar certa alteração futura devido à sinalização de novas políticas comerciais e de conflitos econômicos entre as principais economias globais.

FONTE: O TEMPO