Projetos de resgate patrimonial são concluídos no Quilombo Vargem Alegre, em Cachoeiro

Assim, o aprendizado se deu na formação de rodas, com o acompanhamento de instrumentos e o diálogo direto com os mais experientes.

Encerramento Oficinas de formação de capoeiristas e caxambuzeiros Foto: Luan Volpato -

No último sábado (8), dois projetos de valorização, resgate e manutenção do patrimônio imaterial de Cachoeiro de Itapemirim foram concluídos na localidade de Vargem Alegre, distrito de São Vicente.

O primeiro deles foi o projeto Oficinas de Formação de Capoeiristas e Caxambuzeiros no Quilombo Vargem Alegre, realizado desde o ano passado na comunidade, com a oferta de aulas de caxambu e de capoeira às crianças e aos adolescentes do local. Assim, o aprendizado se deu na formação de rodas, com o acompanhamento de instrumentos e o diálogo direto com os mais experientes.

Carlos Ronaldo Caitano, capoeirista e um dos oficineiros, afirma que “foram momentos de muito aprendizado e evolução. As crianças e os adolescentes se mostraram interessados no esporte e na cultura que vem sendo ensinada. Com isso, após meses de aulas teóricas e treinos práticos, os alunos tiveram a oportunidade de serem reconhecidos como capoeiristas, no batizado, recebendo o primeiro cordel de muitos que estão por vir”. Ele se refere ao batizado, uma cerimônia tradicional na capoeira, que simboliza o reconhecimento do praticante como novo integrante da comunidade capoeirista, após um período de preparação.

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Na ocasião, cada um dos alunos do projeto recebeu seu primeiro cordel, peça repleta de simbolismo. “Não sei se esse projeto foi coincidência ou destino, pois aprender capoeira era meu sonho, mas até então eu não tinha oportunidade de fazer aulas. Agora eu posso, e agradeço a oportunidade”, comenta o aluno Pedro Henrique Linhares. Já o também aprendiz Gabriel Supeleto conta que “a capoeira e o caxambu estão nos ajudando muito, mental e fisicamente. Não conseguimos mais ficar sem esse projeto”. A cerimônia do batizado foi realizada em parceria com o grupo de capoeira Filhos da Princesa do Sul, do qual fazem parte Carlos Ronaldo e o mestre Bruno Fajardo, que também é Presidente da Associação de Salvaguarda do Patrimônio Imaterial Cachoeirense.

A outra iniciativa que foi finalizada no sábado é o projeto Manutenção das Rodas de Caxambu de Cachoeiro de Itapemirim, que, desde o último mês de outubro, vem viabilizando a realização de rodas dessa manifestação tradicional com a participação dos três grupos que a representam no município: Caxambu da Velha Rita (do bairro Zumbi, que sediou a primeira roda), Santa Cruz (do quilombo Monte Alegre, onde ocorreu o segundo encontro) e Alegria de Viver (da própria comunidade de Vargem Alegre, que recebeu a roda de encerramento).

Lúcia Maria Caitano (Mestra Lucinha), do grupo Alegria de Viver, comenta que “o que eu e meus irmãos Ormyr e Paulinho mais apreciamos é a oportunidade de estar junto com nossos companheiros de outros grupos, trocando aprendizados valiosos. Até mesmo conhecemos jongos com letras diferentes dos que nós costumamos cantar!”.

Os dois projetos foram realizados com recursos do Funcultura, da Secretaria da Cultura (Secult), por meio do Edital 05/2023 – Culturas Tradicionais. A interseção de ambos proporcionou momentos de interação e troca de saberes entre diferentes representantes do patrimônio imaterial de Cachoeiro, por meio de diálogos e apresentações práticas, culminando com a tradicional feijoada, forte elemento da identidade negra brasileira. A acessibilidade e a inclusão são temas que também foram trabalhados nos projetos. A psicopedagoga Maria Elvira Tavares, que abordou essa pauta, explica que “a preservação e a valorização do nosso patrimônio só fazem sentido quando há diversidade e participação ampla. Falar sobre acessibilidade é fundamental para garantir que todas as pessoas, independentemente de qualquer condição, possam participar e usufruir plenamente dessas manifestações, e para permitir que grupos historicamente excluídos tenham espaço para vivenciar, contribuir e fortalecer as tradições”.

Tanto o projeto das oficinas quanto o das rodas de caxambu contam com o apoio da Associação de Salvaguarda do Patrimônio Imaterial Cachoeirense, do Instituto de Preservação do Patrimônio Cultural Ádapo e do Studio Inovar Arquitetura.

Genildo Coelho Hautequestt Filho, coordenador geral de ambos, afirma que “ações como essas são essenciais para manter vivos e atuantes os grupos que representam o patrimônio imaterial de Cachoeiro. Eles só conseguem dar continuidade às suas atividades e transmitir seus conhecimentos de forma sistematizada por meio de iniciativas que promovam sua valorização e possibilitem a continuidade de suas práticas tradicionais”.