O presidente da Finlândia, Sauli Niinistö, teve uma conversa telefônica "direta e sem rodeios" neste sábado (14) com o colega russo, Vladimir Putin, sobre a adesão de seu país à aliança militar ocidental Otan –o mais recente ponto de atrito entre governos ocidentais e Moscou.

 


No comunicado em que afirma que ligou para Putin, Niinistö diz que "correu tudo bem" e que "evitar tensões foi considerado algo importante".


Já o Kremlin foi mais direto no relato sobre o telefonema, afirmando que Putin disse a Niinistö que acabar com a neutralidade militar da Finlândia seria um "erro". "Vladimir Putin sublinhou que acabar com a política tradicional de neutralidade militar seria um erro, pois não há ameaça à segurança da Finlândia", afirma o comunicado.


A candidatura da Finlândia à Aliança do Tratado do Atlântico Norte, vista com desgosto por Moscou, deve se tornar oficial neste domingo (15) e é uma consequência direta da Guerra da Ucrânia. A Suécia já sinalizou que também pretende entrar para a aliança militar de 30 países nos próximos dias, e espera-se que oficialize a solicitação já na segunda-feira.


Porém, qualquer país que pretenda aderir à aliança precisa do apoio unânime de seus membros, e a Turquia, segundo maior Exército do grupo, pode vetar as novas adesões. Ancara criticou a invasão da Rússia à Ucrânia, mas também é uma aliada próxima de Putin e se opôs a sanções contra Moscou.


Na sexta-feira (13), o presidente Recep Tayyip Erdogan disse que não seria possível apoiar a ampliação da aliança porque a Finlândia e a Suécia eram "lar de muitas organizações terroristas". Erdogan tem criticado esses países há anos por receberem refugiados perseguidos por Ancara, pertencentes a organizações que o governo turco considera terroristas.


Turquia não fechou portas, diz porta-voz Neste sábado, entretanto, o porta-voz de Erdogan disse que seu país não fechou a porta para a entrada da Suécia e da Finlândia na Otan.

 


"Não estamos fechando a porta. Mas estamos basicamente levantando essa questão como uma questão de segurança nacional para a Turquia", disse Ibrahim Kalin, que também é o principal conselheiro de política externa do presidente, à Reuters, em entrevista em Istambul.


Kalin afirmou que o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) -designado como organização terrorista pela Turquia, Estados Unidos e União Europeia- está arrecadando fundos e recrutando integrantes na Europa e que sua presença é "forte, aberta e reconhecida" particularmente na Suécia.


"O que deve ser feito é claro: eles precisam parar de permitir que estabelecimentos, atividades, organizações, indivíduos e outros tipos de presença do PKK existam nesses países", disse Kalin.


"A adesão à Otan é sempre um processo. Vamos ver como as coisas vão. Mas este é o primeiro ponto sobre o qual queremos chamar a atenção de todos os aliados, bem como das autoridades suecas", acrescentou. "É claro que queremos ter uma discussão, uma negociação com colegas suecos."


"Se eles [Finlândia e Suécia] têm um público preocupado com sua própria segurança nacional, nós temos um público igualmente preocupado com nossa própria segurança", disse ele. "Temos que ver isso de um ponto de vista mútuo."

 


Kalin afirma que o descontentamento de Putin com a ampliação da Otan não é um fator na posição da Turquia.


Em meio à crise, a Finlândia vai ficar sem a energia elétrica fornecida a ela pela Rússia. As exportações para o país vizinho foram suspensas na madrugada de sexta-feira (13) para sábado (14) por falta de pagamento, segundo a empresa responsável, a RAO Nordic -que tem 100% de capital russo.


A rede continuou funcionando graças a importações da Suécia, de acordo com informações divulgadas em tempo real pela Fingrid, operadora finlandesa, que afirmou na sexta-feira que poderia prescindir da energia elétrica russa.


A RAO Nordic, com sede em Helsinque, é uma filial da empresa russa InterRAO. Na sexta-feira, a companhia disse que não recebe pagamento da Finlândia desde 6 de maio.


Não foi revelado se os problemas de pagamentos estão relacionados com as sanções econômicas europeias adotadas contra a Rússia após a invasão da Ucrânia.


G7 promete ampliar sanções Enquanto isso, ministros das Relações Exteriores do G7 prometeram ampliar as sanções contra Moscou para "setores nos quais a Rússia é particularmente dependente" e pediu ao governo da China para "não minar" as medidas punitivas.


Reunidos na Alemanha neste sábado, os ministros das sete nações mais ricas do planeta disseram que o grupo nunca reconhecerá "as fronteiras que a Rússia deseja impor à força" na Guerra da Ucrânia.
"Vamos manter nosso compromisso de apoiar a soberania e a integridade territorial da Ucrânia, incluindo a Crimeia", afirmaram, em um comunicado.


Os sete países (Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido) também condenaram "as ameaças irresponsáveis do uso de armas químicas, biológicas ou nucleares" por parte do presidente russo Vladimir Putin.