Embora não figure em nenhuma das pesquisas de intenções de voto, Cabo Daciolo (Patriota) foi um dos assuntos mais comentados nas redes sociais durante o primeiro debate presidencial, realizado na noite de quinta-feira (9). 

Ele roubou a cena no encontro entre oito presidenciáveis, promovido pela Rede Bandeirantes, ao fazer promessas como de reduzir o preço da gasolina em 50% e de acabar com 400 bilhões de sonegadores, embora o Brasil tenha uma população muito menor, de 209 milhões de habitantes. 

"Glória a Deus", disse o candidato de 42 anos ao se apresentar ao eleitor brasileiro. "Eu chamo atenção para a resposta do candidato ao lado que falou, falou e não foi dito nada. Essa representa a velha política do Brasil", afirmou logo depois de o senador Álvaro Dias, que disputa a Presidência pelo Podemos, discursar. 

Daciolo é natural de Florianópolis e egresso do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro. Está em seu primeiro mandato como deputado federal e foi escolhido de última hora pelo Patriota para ser o candidato ao Palácio do Planalto, depois que a legenda recebeu a negativa de Jair Bolsonaro, que preferiu trocar o PSC pelo PSL. 

Em menos de quatro anos de mandato, já passou por três legendas: foi eleito pelo PSOL em 2014, mas filiou-se ao PT do B (atual Avante) em 2016, depois de ter sido expulso de seu primeiro partido. A filiação ao Patriota se deu em março, quando sua pré-candidatura ao Planalto foi lançada. 

Benevenuto Daciolo Fonseca dos Santos entrou na política depois de ter liderado a greve de Bombeiros do Rio, em 2011. Foi convidado pelo PSOL a disputar uma vaga na Câmara dos Deputados em 2014, mas a relação com o partido azedou antes mesmo de sua posse. A primeira polêmica veio da aproximação do cabo com o capitão reformado do Exército Jair Bolsonaro, com quem postou uma foto nas redes sociais. 

A expulsão da legenda, contudo, só se deu em maio de 2015, quando o deputado queria alterar o 1º artigo da Constituição, substituindo "povo" por "Deus" na frase que diz que "todo poder emana do povo". Ele ficou até 2016 sem legenda, até de filiar ao PT do B. 

Sua passagem pela Câmara rendeu 139 proposições, mas apenas uma delas foi aprovada. Uma emenda que estendia a anistia a bombeiros e policiais militares, concedida por lei de 2011, ao estado do Pará. Essa mesma legislação o beneficiou. Ao liderar greve no Rio, Daciolo chegou a ser preso em Bangu, quando perdeu o cargo.   

Mais recentemente, o deputado apoiou a greve dos caminhoneiros, que paralisou estradas afetando o abastecimento no país entre o fim de maio e início de junho.  

Um de seus discursos mais emblemáticos da Câmara é o que ele anuncia uma suposta cura da deputada Mara Gabrilli (PSDB-SP), que ficou paraplégica após sofrer um acidente.  

"O que eu vou falar aqui vai parecer uma loucura para muitos. Mas eu prefiro a loucura de Deus do que a sabedoria dos homens", disse Daciolo em discurso em julho, no plenário da Câmara. "Eu quero aqui, diante de todos, profetizar a cura da deputada Mara. Eu creio que aquela mulher vai levantar da cadeira e vai começar a andar. Eu creio que isso vai acontecer." 

A evocação a Deus é uma de suas principais marcas. Ao final do debate, o candidato citou um trecho da Bíblia no qual o profeta Jeremias escreve de Jerusalém uma carta aos exilados. "Eu conheço os planos que tenho para vocês, nação brasileira, diz o senhor", afirmou. Daciolo incluiu como vocativo a "nação brasileira" e prometeu, caso seja eleito, transformar do Brasil de uma colônia em nação. 

As falas do deputado se aproximam em muitos pontos do discurso de Bolsonaro: critica a velha política, a corrupção, evoca Deus e os valores da família. Assim como o capitão reformado do Exército, diz que estrangeiros, como os chineses, estão comprando o Brasil. 

Outra proposta parecida à de Bolsonaro é a defesa do voto impresso. Daciolo aproveitou sua vez para fazer perguntas e indagou o candidato tucano Geraldo Alckmin qual a opinião dele sobre fraudes nas urnas eletrônicas, que ele disse ser fato comprovado sem apresentar evidências. Daciolo anda sempre com uma Bíblia nas mãos, livro que carrega até quando se senta para fazer uma refeição no cafezinho da Câmara dos Deputados. Se eleito, ele promete levar o Brasil a clamar ao senhor.  

Um de seus ídolos é o ex-candidato à Presidência Enéas Carneiro, que se tornou célebre após cunhar um bordão com o qual se apresentava. "Meu nome é Eneas, 56", dizia. 

Morto em 2007, o ex-candidato foi lembrado por Daciolo como um injustiçado. "O Doutor Enéas, o que ele falava era verdade, tudo verdade e não levavam ele a sério." Com informações da Folhapress.