O escândalo da gravação que joga responsabilidade para cima de Jair Bolsonaro, no caso do ex-ministro Milton Ribeiro (Educação), não foi celebrada com salva de fogos pela oposição. Não na devida dimensão do episódio. Hoje, com as redes sociais, é fácil medir o alcance de um fato e sua repercussão.

Em outros tempos, o PT, por exemplo, já estava na rua com a campanha “Fora, Bolsonaro” mais ruidosa do que nunca. Por muito menos, o partido fez isso com Fernando Henrique Cardoso (FHC). Os tucanos não esquecem jamais do “Fora, FHC”.

A pergunta agora é se vale a pena ou não, a essa altura do campeonato, a 99 dias das eleições, tirar Bolsonaro do Palácio do Planalto.

Muito mais interessante mantê-lo fraco, moribundo e encurralado nas cordas, e derrotá-lo nas urnas, do que provocar seu impeachment. É o que acredita boa parte da oposição, não só do PT.

 

O receio é: que cenário virá sem Bolsonaro na disputa? A abertura de um processo de afastamento de presidente também leva tempo. Deputados, senadores e governadores estão em plena campanha em seus estados. Tem que se formar comissões especiais na Câmara e no Senado e todo o ritual extenso.

Mas, se sim. Daria tempo do bolsonarismo criar um novo candidato? Há alguém tão forte quanto ele na extrema direita? Que clima estará o país com Bolsonaro afastado e sem seus direitos políticos? Um Capitólio no Brasil?

O petista mais graduado que falou em afastamento de Bolsonaro, sem usar a palavra “impeachment”, até agora foi o secretário-geral do partido, o deputado Paulo Teixeira.

Se o PT é conhecido por só tomar decisões coletivas, após mil reuniões, imagina uma medida dessa natureza. Irão pensar dez, cem vezes antes de achar que é hora do “Fora, Bolsonaro”. Ou não.