A Divisão Antiterrorismo (DAT) da Polícia Federal (PF) fez duas tentativas de captura de Cesare Battisti nesta segunda-feira (17) em São Paulo. A PF foi em endereços informados por denúncias anônimas como possíveis esconderijos do italiano, considerado foragido pela polícia desde sexta-feira (14).

O italiano teve a prisão preventiva decretada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Fux na quinta-feira (13). O ministro revogou uma liminar (decisão provisória) que impedia a extradição de Battisti até que o Supremo voltasse a analisar o caso e mandou prendê-lo.

No dia seguinte, na sexta-feira (14), o presidente Michel Temer assinou o decreto de extradição de Battisti.

A DAT passou a integrar a operação de captura do italiano neste domingo (16). Nas investigações, a divisão antiterrorismo é a responsável por receber dados de denúncias amônias, fazer as diligências e apoiar as investigações.

O trabalho é integrado com a Interpol (Organização Internacional de Polícia Criminal), a divisão de imigração e a divisão de inteligência da Polícia Federal.

De acordo com a PF, o maior desafio da investigação é a fronteira. São 17 mil quilômetros de extensão com acessos de estradas vicinais onde não há postos de fiscalização. Em outubro de 2017, Battisti foi detido na fronteira do Brasil com a Bolívia, com dólares e euros em espécie não declarados.

Neste domingo (16), a PF divulgou retratos com possíveis disfarces que o italiano poderia utilizar para se esconder.

Entenda o caso Battisti

O caso de Cesare Battisti no Brasil teve início durante o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010). O italiano fugiu para o Brasil para evitar uma extradição para a Itália, onde ele foi condenado à prisão perpétua por conta de quatro homicídios ocorridos no país europeu na década de 1970;

À época, Battisti fazia parte da organização Proletários Armados pelo Comunismo. Ele foi condenado pela Justiça italiana por quatro homicídios praticados entre 1978 e 1979 contra um guarda carcerário, um agente de polícia, um militante neofascista e um joalheiro de Milão (o filho do joalheiro ficou paraplégico, depois de também ser atingido).

 O italiano se declara inocente;
Antes de fugir para o Brasil, Battisti passou por outros dois países. Em 1981, ele conseguiu fugir da penitenciária de Frosinone, perto de Roma, onde cumpria pena pela morte do joalheiro, e se refugiou na França. No ano seguinte, ele se mudou para o México;
Battisti retornou para a França em 1990 e lá passou a atuar como escritor de livros policiais. Em 2005, ele decidiu deixar a Europa após o Conselho de Estado da França ter autorizado a extradição dele para a Itália. Logo em seguida, ele embarca para o Brasil;


Em 2007, o italiano foi preso pela Polícia Federal no Rio de Janeiro e passou a cumprir prisão preventiva (sem prazo determinado) aguardando uma posição final sobre o pedido de extradição apresentado por Roma ao Palácio do Planalto;
Battisti conseguiu obter do governo Lula, em 2009, o status de refugiado político, baseado no "fundado temor de perseguição por opinião política", contrariando decisão do Comitê Nacional para os Refugiados (Conare);
No fim de 2009, o STF julgou "procedente" o pedido de extradição feito pela Itália, entretanto, deixou a palavra final ao presidente da República;


Lula negou a solicitação do governo italiano em 31 de dezembro de 2010, último dia do governo do petista. Battisti deixou a penitenciária da Papuda, em Brasília, em junho de 2011, após ficar quatro anos na cadeia à espera de uma posição das autoridades brasileiras sobre o pedido de extradição;

A decisão de Lula gerou mal-estar diplomático com a Itália, que se estendeu pelo governo Dilma Rousseff;

Roma não desistiu da extradição e retomou conversas com o Brasil após Temer chegar à Presidência em razão do impeachment de Dilma;


No momento em que identificou as movimentações diplomáticas entre Brasil e Itália, a defesa de Battisti se antecipou e pediu ao Supremo uma liminar para impedir a entrega do italiano para as autoridades do país europeu. Na ocasião, Fux concedeu a liminar, a mesma que ele revogou nesta semana.