A Justiça do Peru julga o ex-presidente Ollanta Humala e sua esposa, Nadine Heredia, nesta segunda-feira (21), pelo grande escândalo de corrupção da empreiteira brasileira Odebrecht.

Humala, de 59 anos, um ex-tenente-coronel do Exército que presidiu o país entre 2011 e 2016, é acusado pelo MP de lavagem de dinheiro por ter recebido contribuições ilegais de 3 milhões de dólares para a campanha que o levou ao poder.

O julgamento acontecerá de modo virtual devido às restrições sanitárias em espaços fechados em vigor no Peru, um dos países mais afetados pela pandemia da Covid-19, com quase 210 mil mortos e 3,5 milhões de contágios.

A promotoria pediu 20 anos de prisão para Humala e 26 anos para sua esposa por “ocultação de compras de imóveis com dinheiro da Odebrecht”.

A juíza Nayko Coronado, do Terceiro Tribunal Penal Colegiado Nacional, preside o tribunal de três magistrados que decidirão o destino do casal Humala e de outros nove réus, inclusive o irmão e a mãe de Nadine Heredia.

A acusação, apresentada em 2019 pelo promotor Germán Juárez, inclui um pedido de dissolução do Partido Nacionalista Peruano, de Humala, acusado de atuar como uma quadrilha que teria recebido dinheiro ilegal para financiar as campanhas de 2006 e 2011.

O ex-presidente e sua esposa, de 45 anos, passaram nove meses em prisão preventiva entre 2017 e 2018 por esse caso.

Esta é a primeira acusação formal contra um ex-presidente peruano que vai a julgamento pelo escândalo Odebrecht, empresa que admitiu em 2016 ter pago dezenas de milhões de dólares em subornos e doações ilegais a campanhas no Peru desde o início do século 21.

Humala é o primeiro de quatro presidentes que vai a julgamento pela trama de corrupção da Odebrecht no Peru, um período que cobre as duas últimas décadas.

O MP peruano apresentou ao tribunal uma lista de 285 testemunhas para interrogar neste caso. Entre elas estão executivos da Odebrecht como Marcelo Odebrecht, Luiz Mameri e Jorge Barata, ex-presidente da empresa no Peru.

Humala tentou retornar à Presidência nas eleições de 2021, mas recebeu apenas 1,3% dos votos e seu partido não conquistou nenhuma cadeira no Parlamento.

Os outros três ex-presidentes afetados pelo escândalo Odebrecht são Pedro Pablo Kuczynski (2016-2018), Alan García (2006-2011) e Alejandro Toledo (2001-2006).

Ex-executivos da Odebrecht confessaram a promotores peruanos terem pago ilegalmente milhões de dólares a políticos. Isso inclui a líder da oposição Keiko Fujimori, cujo julgamento pode começar antes do fim do ano.

Kuczynski, de 83 anos, está em prisão domiciliar há três anos. Ele renunciou à Presidência em março de 2018, às vésperas de seu impeachment pelo Congresso devido ao escândalo da Odebrecht.

Ele sempre negou ter vínculos com a empreiteira, até que a empresa o desmentiu ao afirmar que pagou ao ex-presidente por consultorias.

Alejandro Toledo, de 75 anos, sob prisão domiciliar em Palo Alto (Califórnia, Estados Unidos), aguarda a decisão do governo americano sobre o pedido de extradição apresentado pelo governo do Peru depois que um tribunal da Califórnia autorizou a medida em setembro.

O MP peruano o acusa de ter recebido 20 milhões de dólares em subornos da Odebrecht em troca de contratos de obras públicas durante seu governo.

Alan García, líder do histórico partido social-democrata Apra, cometeu suicídio antes de ser detido, em abril de 2019. Ele tinha 69 anos.

Pesava contra ele uma ordem de prisão preliminar por uma investigação do MP sobre o escândalo de contribuições ilegais a campanhas e subornos da Odebrecht, acusações que ele sempre negou.