As regiões Norte e Noroeste do Estado reclamavam muito de que apenas o Sul era, economicamente, desenvolvido e que o Governo não olhava “para cima”. A virada começou no final dos anos 80, quando o governo federal incluiu todos os municípios capixabas ao Norte do rio Doce na região da Sudene, como já acontecia com os municípios do Norte de Minas Gerais. 


Nessas três décadas, a região deu uma grande virada econômica. Oito em cada dez novas empresas que se instalam no Estado procuram cidades como Linhares, São Mateus, Colatina e até Barra de São Francisco, encravada na região Noroeste e que nos últimos anos passou por uma grande mudança de matriz econômica, com o desenvolvimento do setor de rochas ornamentais, reunindo hoje os maiores exportadores de rochas do País –a maior delas, entretanto, está situada em São Domingos do Norte. 


Agora, começa um movimento que promete “uma nova revolução”. E não apenas no Norte e Noroeste do Espírito Santo, mas também no Leste de Minas e no Sul da Bahia. Visto, inicialmente, com descrédito, principalmente pelos líderes do Sul do Estado, confiados nas promessas do ex-governador Paulo Hartung, o complexo logístico pilotado pela Petrocity a partir de São Mateus ganha cada vez mais força política.


Para quem duvida, a surpresa pode vir no próximo dia 17, quando o presidente da Petrocity, José Roberto Barbosa da Silva, anuncia para às 14 horas, em Vitória, um grande evento para assinatura de vários contratos para construção do porto. E, agora, o porto e a ferrovia começam a ganhar peso também com a mobilização de políticos de Minas Gerais.

 

IMPACTO NACIONAL


Depois do deputado Enivaldo dos Anjos (PSD), maior líder político que a região Noroeste já produziu, a ponto de ter deixado o mandato eletivo, ir para o Tribunal de Contas, aposentar-se e conseguir se eleger novamente como deputado, agora reeleito – é o único caso desse tipo no Brasil, agora o projeto da Petrocity ganha um apoio de muito peso: Felipe Rigoni, do PSB do governador Renato Casagrande. Sem contar que é de São Mateus o futuro líder do governo Casagrande na Assembleia: o deputado Eustáquio Freitas (PSB).


Deputado federal mais novo do Espírito Santo, eleito com 84.405 votos, surpreendendo o mercado político como segundo mais votado do Estado, Felipe Rigoni, 27 anos, vai abraçar em Brasília a defesa política dos projetos do Complexo Portuário de São Mateus (CPSM) e da nova ferrovia Estrada de Ferro Minas-Espírito Santo (EFMES) por entender que são projetos sustentáveis “que vão representar a grande virada da economia brasileira”.


Exagero? Não. O jovem deputado enxerga, sim, a revolução do desenvolvimento das regiões Norte e Noroeste do Espírito Santo, mas vai muito além: “Será um forte impacto sobre o Norte do Espírito Santo, Leste de Minas e Sul da Bahia, que estão com a economia estagnada, mas a ferrovia ligando o porto a Sete Lagoas, em Minas, vai mudar a rota das exportações de grãos de parte do Cerrado e do Mato Grosso, que hoje saem com dificuldade por Santos e Rio, e virão para o Espírito Santo”.


O parlamentar enfatiza que, dos vários fatores para o sucesso e o desenvolvimento econômico, três se destacam: o equilíbrio fiscal, a qualidade dos serviços públicos e o ambiente de negócios favorável, “e isso implica em infraestrutura, que será criada por esses dois projetos, o porto e a ferrovia”.


PRODUTIVIDADE


Para Rigoni, se o País quer melhorar sua produtividade tem que melhorar a qualidade da infraestrutura: “O estoque brasileiro de infraestrutura é de 36% em relação ao PIB, quando a média da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) é de 70% a 80% de estoque em infraestrutura. É isso que repercute na diferença de produtividade que temos no Brasil em relação a outros países desenvolvidos do mundo”.


O porto, sozinho, já terá grande repercussão, na avaliação de Felipe Rigoni, mas “a construção da ferrovia acoplada ao projeto do porto fará deste o maior complexo logístico do Brasil, destravando a economia de uma grande área do País, não apenas com o que já é produzido, mas criando capacidade de se produzir mais coisas e coisas melhores, que hoje não são produzidas nessa região por dificuldade de escoamento”.  


E volta na questão do Centro-Oeste: “O complexo logístico, que será multimodal, vai alavancar o desenvolvimento reprimido do Centro-Oeste, que hoje escoa produção por rodovias e passará a contar com uma ferrovia, onde os custos de transporte são mais baratos e eficientes”.


A existência da UTACs (Unidade de Transbordo e Armazagem de Cargas) em Sete Lagoas, Aeroporto de Confins (para cargas de alto valor agregado), Santa Rita do Itabira, Governador Valadares e Barra de São Francisco “vai promover o desenvolvimento descentralizado do País, que precisa conectar as regiões com produção econômica e qualidade de vida para a população”. 


E um fator que entusiasma o deputado Felipe Rigoni é que os dois projetos são totalmente privados. “Além disso, estaremos no Sudeste, mas dentro da área da Sudene, na verdade, o único complexo dessa natureza com essa característica, com potencial para crescente atividade exportadora, mas também para o mercado interno, através do transporte de cabotagem (navegação de curso menor, entre diferentes pontos do litoral brasileiro, que tem mais de 7 mil quilômetros)”.

DESAFIOS


Mas restam desafios também com projetos dessa grandeza. O primeiro deles, segundo Felipe, relaciona-se ao poder público, porque somente em São Mateus serão gerados 10 mil empregos entre diretos e indiretos.


“Isso atrai mais gente para a região pela oferta de empregos e pelo aumento da atividade econômica, mas as cidades não estão preparadas. Não têm oferta de escolas públicas, saúde e segurança, que já é um problema, porque os batalhões da Polícia Militar já trabalham abaixo do que é necessário. Com o aumento da demanda, isso tende a se agravar. Essa será uma preocupação minha como deputado federal, melhorar a infraestrutura dos municípios”, disse Rigoni.


A qualidade dos gestores públicos nos municípios, tanto no Executivo quanto no Legislativo, é outro aspecto que o deputado federal acredita que precisar ser enfrentado imediatamente: “Esta é uma missão do Renova Brasil. Vamos formar novos líderes, de forma plural e diversa. Precisamos atacar todas as frentes de uma única vez. Há muita coisa para ser feita, e ser feita logo”.


Natural de Linhares, onde obteve 35% dos votos de deputado federal (25.721 votos), Felipe Rigoni prevê um impacto positivo e até modificador da produção econômica do município com o complexo logístico de São Mateus. Ele acredita que Linhares, que já tem um crescimento acima da média, com a instalação de novas indústrias e diversificação da produção tanto agrícola quanto industrial, tenderá a aumentar sua participação da pauta de exportações do Estado. 


O desenvolvimento econômico presente, no entanto, segundo avalia Felipe Rigoni, não pode comprometer o futuro, “isto é desenvolvimento sustentável, respeitando a capacidade do planeta”. Neste quesito, Felipe defende a existência das agências reguladoras, mas com regras bem definidas. 


“A questão ambiental é usada hoje pelos governantes para travar projetos que não são de seu interesse. É conduzida não só somente de maneira a beneficiar a economia e o meio-ambiente, mas a interesses muitas vezes pessoais e de grupos. Não podemos mais conviver com um sistema que engaveta processos de pedido de licenciamento. O sim e o não precisam sair com celeridade. Não tem problema dizer não, tem problema é levar três anos para fazer isso”, alertou.


RECADO DAS URNAS


O deputado federal eleito Felipe Rigoni, que é o primeiro parlamentar cego eleito no Brasil, disse que as urnas deram um recado claro de que a política precisa ser feita mais próxima das pessoas: “Meu mandato terá um aplicativo para o cidadão interagir, conhecer o que está sendo feito, sugerir projetos de leis, debates. Ninguém vai precisar encontrar-se comigo para fazer isso. Estaremos o tempo inteiro junto ao eleitor”. 


Rigoni tem bem claro quais são as grandes pautas que se apresentam para seu mandato: “Em primeiro lugar, as grandes reformas. A começar pela Previdência, a reforma tributária, com um novo pacto federativo. Se a maioria das políticas públicas competem aos Estados e municípios, temos que descentralizar os recursos arrecadados por impostos”.


Outro desafio, segundo Rigoni, está na qualidade do serviço público: “Precisamos de uma reforma do Estado, mudando o formato da gestão de pessoas atual. A estabilidade do servidor público tem que estar baseada em resultados, na produtividade do servidor. É assim que acontece nas maiores economias do mundo”.