O cantor e compositor Caetano Veloso homenageou, na noite de sábado (18), o indigenista pernambucano Bruno Pereira e o jornalista Inglês Dom Phillips, mortos durante uma expedição no Vale do Javari, na Amazônia. Com uma bandeira estampada com os rostos dos dois, o artista fez seu manifesto em um show realizado em Brasília, no Distrito Federal.

O baiano lotou o auditório do Centro de Convenções Ulysses Guimarães e atraiu quatro mil pessoas. Na ocasião, foi realizado espetáculo da nova turnê, Meu coco, que conta com releituras de diferentes momentos da obra de Caetano, prestes a completar 80 anos de idade, no próximo mês de agosto.

 

O repertório é marcado por várias canções de protesto e após após entoar uma delas, a música "Não vou deixar", a estrela de Santo Amaro da Purificaçção, no recôncavo da Bahia, demonstrou indignação contra os assassinatos. Ele estendeu uma grande bandeira com os rostos dos dois, e questionou: "Por que interromperam as investigações?".

Caetano Veloso protesta contra mortes de Dom Phillips e Bruno Perreira — Foto: Reprodução/Redes sociais

Caetano Veloso protesta contra mortes de Dom Phillips e Bruno Perreira — Foto: Reprodução/Redes sociais

O momento foi registrado por espectadores e as imagens viralizaram nas redes sociais. Nos vídeos é possível ver que parte do público reagiu em coro ao gesto do cantor, gritando "Fora Bolsonaro".

No mesmo dia, em Manaus, capital do Amazonas, onde o caso ocorreu, o cantor e compositor Nando Reis também homenageou Dom e Bruno.

 

 

Manifestações

 

Manifestantes se reúnem para cobrar justiça por Bruno Pereira e Dom Phillips — Foto: Guilherme Mazui/g1

Manifestantes se reúnem para cobrar justiça por Bruno Pereira e Dom Phillips — Foto: Guilherme Mazui/g1

Na manhã deste domingo (19), horas depois do espetáculo, manifestantes fizeram um ato na Asa Norte, em Brasília, cobrando por justiça pelas mortes. Os participantes carregaram imagens de Bruno e Dom, cobraram responsabilização pelo crime, pediram o fim do garimpo e a saída do presidente da Funai, Marcelo Xavier.

 

Em Belém, capital do Pará, dezenas de pessoas se reuniram na Praça da República, por volta das 9h, e participaram de uma vigília. Com cartazes, o grupo pediu justiça e cobrou o governo federal pelos crimes contra a Amazônia e os povos originários, além de solicitar urgência nas investigações do caso de Bruno e Dom Phillips e prestar solidariedade às famílias dos dois.

 

Manifestantes participam de ato pelo jornalista Dom Phillips e o indigenista Bruno Pereira, em Belém. — Foto: Divulgação

Manifestantes participam de ato pelo jornalista Dom Phillips e o indigenista Bruno Pereira, em Belém. — Foto: Divulgação

A dupla estava desaparecida desde 5 de junho, enquanto fazia uma viagem na terra indígena do Vale do Javari, no Amazonas. Os restos mortais deles foram encontrados na quarta-feira (15), após um dos suspeitos confessar envolvimento.

 

Cartazes pedem justiça por Bruno Pereira e Dom Phillips, durante ato em Brasília — Foto: Guilherme Mazui/g1 DF

Cartazes pedem justiça por Bruno Pereira e Dom Phillips, durante ato em Brasília — Foto: Guilherme Mazui/g1 DF

 

 

Identificação

 

Policiais federais carregam caixão com restos mortais de Dom e Bruno que foram encontrados no Amazonas — Foto: TV Globo/Reprodução

Policiais federais carregam caixão com restos mortais de Dom e Bruno que foram encontrados no Amazonas — Foto: TV Globo/Reprodução

O material encontrado foi analisado em Brasília. No sábado, a Polícia Federal confirmou que parte dos restos mortais encontrados no Amazonas são do indigenista Bruno Araújo Pereira.

A identificação foi possível após exame da arcada dentária no Instituto Nacional de Criminalística. Durante a tarde de sexta (17), peritos já haviam confirmado que, no material, também estavam os restos mortais do jornalista Dom Phillips.

Em nota, a PF informou que Dom e Bruno foram atingidos por tiros: o indigenista foi baleado três vezes, na cabeça e no tórax, já o jornalista, uma vez, no tórax. Três suspeitos estão presos pelo crime. Um deles, que era considerado foragido, foi detido no sábado.

 

 

Causa da morte

 

 

Caso Bruno e Dom: avião com restos mortais do Vale do Javari chega em Brasília

Segundo a nota da PF, o exame médico-legal feito pelos peritos aponta que "a morte do Sr. Dom Phillips foi causada por traumatismo toracoabdominal por disparo de arma de fogo com munição típica de caça, com múltiplos balins, ocasionando lesões principalmente sediadas na região abdominal e torácica (1 tiro)".

Já a morte de Bruno Pereira, de acordo com a Polícia Federal, "foi causada por traumatismo toracoabdominal e craniano por disparos de arma de fogo com munição típica de caça, com múltiplos balins, que ocasionaram lesões sediadas no tórax/abdômen (2 tiros) e face/crânio (1 tiro)".

A corporação afirma que "os trabalhos dos peritos do Instituto Nacional de Criminalística, nos próximos dias, serão concentrados nos exames de Genética Forense, Antropologia Forense e métodos complementares de Medicina Legal, para identificação completa dos remanescentes e compreensão da dinâmica dos eventos".

 

Os corpos das vítimas teriam sido esquartejados e enterrados. A motivação do crime ainda é incerta, mas a polícia apura se há relação com a atividade de pesca ilegal e tráfico de drogas na região. Segunda maior terra indígena do país, o Vale do Javari é palco de conflitos típicos da Amazônia: desmatamento e avanço do garimpo.

VEJA: Amigo de Dom Phillips diz que ele já havia falado sobre insegurança no AM e 'discurso de ódio' contra ambientalistas e indigenistas

 

Desaparecimento

 

Montagem com fotos do indigenista brasileiro Bruno Araújo Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips — Foto: TV Globo/Reprodução

Montagem com fotos do indigenista brasileiro Bruno Araújo Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips — Foto: TV Globo/Reprodução

Antes de sumir, Pereira, que era servidor licenciado da Fundação Nacional do Índio (Funai), e Phillips foram vistos pela última vez na comunidade São Rafael, em uma viagem com duração prevista de duas horas rumo a Atalaia do Norte, mas eles não chegaram ao destino.

 

Logo após o desaparecimento, a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) afirmou que Pereira recebia constantes ameaças de madeireiros, garimpeiros e pescadores. Em nota divulgada na ocasião, a entidade descreveu Pereira como "experiente e profundo conhecedor da região, pois foi coordenador regional da Funai de Atalaia do Norte por anos".

Segundo o jornal britânico "The Guardian", do qual Phillips era colaborador, o repórter estava trabalhando em um livro sobre meio ambiente. Ele morava em Salvador, onde dava aulas de inglês em um projeto social, e escrevia reportagens sobre o Brasil fazia mais de 15 anos. Também publicou em veículos como "Washington Post", "The New York Times" e "Financial Times".