27º álbum do violeiro mais atuante da cena brasileira recebe as participações especiais de Luiz Caldas, da dupla Kleiton & Kledir, da cantora Tetê Espíndola e do cantor Sérgio Andrade

Segundo alguns especialistas em inovação a necessidade de se reinventar existe há muito tempo e faz parte da história da humanidade. Tanto quanto mudar é questão de sobrevivência. Assim o violeiro mineiro, compositor e cantador Chico Lobo, consagrado em 2021 com seu 4º prêmio no Profissionais da Música na categoria Melhor Artista Raiz Regional e homenageado com a Medalha de Honra 2021 da Universidade Federal de Minas Gerais pela sua relevante atuação na cultura e sociedade, colocou em prática, justamente isso, em plena pandemia. Após lançar em 2020 o CD Alma e Coração, já nesse processo de ousar, criar, se tornar outro, Chico Lobo não parou e em 2021 produziu em parceria com a Kuarup mais um álbum nesses tempos difíceis.

 

O Tempo é Seu Irmão, 27º disco da sua carreira, tem lançamento em formato físico e digital previsto para o dia 13 de maio de 2022 pela gravadora e produtora Kuarup. O novo álbum que tem texto de apresentação no formato físico, assinado pelo prestigiado jornalista Chico Pinheiro, traz músicas inéditas e autorais, compostas em 2021. Além de assinar a maioria das composições, Chico Lobo, também apresenta parcerias com Edmundo Bandinelle, Eudes Fraga, Jorge Nelson, Carlos Di Jaguarão e Thales Martinez. O trabalho apresenta participações muito especiais, todas referências para Chico Lobo e que fazem parte da história da música brasileira: Luiz Caldas, Kleiton & Kledir, Tetê Espíndola e Sérgio Andrade, da Banda de Pau e Corda. Produzido por Ricardo Gomes, grande parceiro musical de Chico Lobo, fundamental para o resultado sonoro do álbum, que também assina baixos, violões, teclados, o trabalho tem as presenças marcantes do baterista Léo Pires, do violinista Marcello Sylvah, do violoncelista Sérgio Rabelo e os vocais de Gih Saldanha além dos músicos Delano no steall, Cristiano Caldas no piano, Clevin Moreira no acordeom, Marcelo Fonseca no violino e o músico convidado, o percussionista Carlinhos Ferreira.

 

A temática parte de reconhecer que o tempo é essencialmente um “parceiro” fundamental e dentro dessa perspectiva, até mesmo e sobretudo esta situação difícil enfrentada mundialmente pela Covid-19, até isso, o tempo cuidará de trazer de volta a tão almejada e merecida serenidade. Pai de três filhos: Mateus (25 anos) graduado em Cinema, Luísa (21 anos) universitária em Propaganda e Publicidade e o colegial Tomás (18 anos), Chico Lobo percebeu o difícil momento que seus filhos enfrentavam e enfrentam (o mesmo de tantos jovens): sem perspectivas de trabalho, afastados do convívio dos amigos e relacionamentos sociais.  Assim, em diálogo junto a outros pais amigos ficou perceptível, como um acontecimento, quase geral, esse sofrimento entre os jovens. O fato gerou inspiração para a música O Tempo é Seu Irmão, ponto de partida do álbum. Então vieram na sequência as canções: Lua e Sol, Sementeira e Pagode do Tempo.

 

O Tempo É Seu Irmão vem hoje como uma grande celebração desses novos tempos que chegam com esperança, positividade, resiliência, emoções que marcam esse novo trabalho. A música é a fiel companheira do violeiro mineiro que ao compor compulsivamente se renova e brinda o retorno da cultura, dos shows presenciais com um álbum recheado de belas participações. E Chico Lobo vai além, ele tem uma compreensão que a pandemia não é dissociada das mudanças climáticas, catástrofes ambientais e tudo tem conexão com o relacionamento insano do homem com a natureza e o meio ambiente. Neste raciocínio surgem cantigas como: Madeira, Rio e Mar e Ave Maria das Matas. Bem relacionado e respeitado por inúmeros artistas da música popular brasileira, como a cantora Maria Bethânia que gravou duas músicas de seu repertório, Chico Lobo retoma sua musicalidade da raiz caipira com toadas, pagodes, cateretês e revisita o Nordeste em Se A Noite Apaga a Luz e Indagorinha, uma homenagem ao sogro Mestre André e a todos os retirantes, que vieram para o sul em busca dos sonhos. Mas também não deixa de dialogar com ritmos universais como o folk e o country. Sem dúvida uma riqueza sonora. O Tempo é Seu Irmão é uma viagem lírica ao nosso coração e é carregada de cheiro, som, sabor e cor da nossa brasilidade. O álbum retrata o amadurecimento diário de Chico Lobo como compositor e violeiro desde 1981 quando decidiu abandonar tudo para mergulhar na vida artística e já se vão mais de 40 anos de uma carreira grata e promissora.

 

Faixa a faixa

 

1- Madeira: totalmente conectada com a necessidade de se preservar o meio ambiente. Música que nasce após o desastre ecológico das queimadas no pantanal, no cerrado de Minas e o desmatamento da floresta amazônica. Uma música que denuncia os maus tratos com nosso meio ambiente. Destaque para a pulsante bateria de Léo Pires e o piano de Cristiano Caldas.

 

2- Sementeira: parceria do violeiro mineiro com o músico cearense de Quixadá, Eudes Fraga, a canção tem a participação especial do cantor baiano Luiz Caldas. Um batuque mineiro com temperos de samba de roda do recôncavo baiano, música para balancear, o lado festivo da viola.

 

3- Rio e Mar: música que o violeiro Chico Lobo manifesta o seu desejo de ser feliz, que corresponde ao seu coração "é rio que corre para o mar " e mesmo que nesse percurso venham as enchentes e as dificuldades, elas existem para serem vencidas. A cantiga tem a participação especial da dupla gaúcha Kleiton & Kledir.

 "Temos grandes referências de você amigo Chico Lobo" disse Kledir ao telefone. É uma levada de viola que junta Minas Gerais ao Rio Grande Do Sul. Um sotaque uai e tchê.

 

4- Se a Noite Apaga a Luz: letra forte do parceiro Jorge Nelson ganha ritmo de um genuíno galope nordestino, com destaque do diálogo da viola de Chico Lobo com o acordeom do mineiro Clevin Moreira. "Se a noite apaga a luz, o céu acende as estrelas"

 

5- Ave Maria das Matas: parceria de Chico Lobo com o amigo de juventude e de início de carreira, Edmundo Bandinelle. Nasce após uma ida do violeiro a sua região em Campo das Vertentes para renovar as energias. Região com muitas cachoeiras e natureza exuberante. A mataria que cobre o entorno das cachoeiras, tão importantes ganham simbologia sacra " Êh salve manto sagrado, na cachoeira encostado". Uma bela levada folk na viola e nos violões.

 

6- Lua e Sol: música de Chico Lobo com uma melodia que emociona. É construída com arranjos delicados e soa como uma balada rural existencial. E para que a mensagem fosse ainda mais forte o violeiro convidou para participar a cantora mato-grossense Tetê Espíndola, que como ele mesmo define, tem a voz de pássaros, a voz das estrelas. E o resultado é de rara beleza. Destaque para o violão aço de Marcello Sylvah e de Delano no steall.

 

7- O Tempo é Seu Irmão: ponto de partida do álbum, a música foi feita para o seu filho Mateus, que como tantos jovens sofreram com o isolamento social provocado pela pandemia de Covid-19. "O tempo é seu irmão não corre além das horas que se tem para viver, então esperar que a noite então se vá e ver o dia amanhecer". Chico Lobo se aventura em visitar na viola o country americano. Destaque para o belo violino de Marcelo Fonseca e vocais de Marcelo Kamargo e João de Ana, dois artistas lançados pelo selo Lobo Kuarup do qual Chico Lobo é o curador.

 

8- Indagorinha: parceria de Chico Lobo com Carlos Di Jaguarão. A cantiga que se transformou em videoclipe é uma homenagem ao povo nordestino e à mestre André, sogro de Chico Lobo, que nos anos de 1940 desceu do Rio Grande do Norte, num caminhão de pau de arara com dezenas de retirantes, para ganhar a vida em Minas Gerais. A cantiga tem a participação especial de Sérgio Andrade, vocalista e fundador da Banda de Pau e Corda. Belo encontro da viola mineira e o canto de sotaque nordestino. Destaque para os vocais de Gih Saldanha e a riquíssima percussão de Carlinhos Ferreira, que utiliza elementos sonoros, que nos remetem ao som armorial, como a rabeca de lata, os guizos e aboios. Marca presença também mestre André recitando uma quadra de cordel no final. " É uma águia de aço o traço do nordestino, gigante de vir a ser jeito de homem menino".

 

 

9- Faca de Talho: uma autêntica toada caipira clássica que nos conta história de aventuras e amores. Parceria de Chico Lobo com o mineiro Thales Martinez. Chico Lobo escolheu cantar em uma região mais grave de sua voz, dando dramaticidade à cantiga. Destaque para o belo violoncelo de Sérgio Rabello

 

10- Pagode do Tempo: a composição de Chico Lobo que fecha o álbum é um genuíno pagode de viola, gênero criado pelo saudoso mestre Tião Carreiro. A viola se mostra ladina, atrevida e a letra brinca com o tempo, inclusive ressalta a estrada e o tempo que Chico Lobo vem construindo sua carreira. Ótima forma de fechar esse belíssimo álbum "Assim eu sigo minha lida nas barbas que o tempo faz, uma sina iniciada a muito tempo atrás."

 

 

Texto Chico Pinheiro

 

Este não é um Lobo qualquer. Chico é o Lobo que corre livre no Campo das Vertentes, ali na centenária São João Del Rey. A água pura das nuvens desaba sobre esses campos e corre em várias direções. Ora viajam para os riachos que vão formar o Rio Grande, ora seguem seu curso para formar o grande velho Chico, ora serpenteiam para o leste, para o Rio Doce. Correm sem pressa pelos caminhos do campo, sem tempo de relógio: afinal o tempo é seu irmão. A viola encantada de Chico Lobo faz chover notas e versos que também vão formar belos rios da música brasileira. Melodias e poemas que nascem do fundo da terra mineira, logo banhados de luares e estrelas, às vezes brilhando ao sol daquelas plagas, semeando cuidadosas histórias de tempos e gentes, de amores e revoluções, de delicadezas várias. Falam de sementeiras do coração que florescem no canto do amor derramado. Cantigas, catiras, cirandas, tudo gira na música de Chico Lobo, quando o sol se apaga e em meio a luas novas e cheias, e surgem os vagalumes nos olhos da pessoa amada. Só Lobos como o Chico podem vê-los e transforma-los em canções. Indagorinha eu ouvia as faixas deste belíssimo disco O Tempo é seu Irmão e viajava em busca desse Espírito de Minas, tão distante dos gritos, barulhos e buzinas. Espírito invocado por nosso poeta maior, Drummond, na "confusão dessa cidade", para salvá-lo do caos com seu "claro raio ordenador". Eu, pequeno Pinheiro (nem posso ser chamado de madeira de lei), recomendo aos muitos que estamos imersos em águas poluídas das canções nascidas para saciar a fome de consumo do mercado que busquem a música que brota nessas minas do Campo das Vertentes. E vamos reencontrar o canto de pássaro de Tetê Espíndola, a harmonia dos irmãos Kleiton & Kledir, a alegria baiana de Luiz Caldas e o nordeste de Sérgio Andrade da Banda de Pau e Corda. Obrigado xará Lobo. É tudo Mistério!

 

Sobre Chico Lobo

Natural de São João Del Rey o violeiro Chico Lobo tem mais de 40 anos de carreira e é considerado pela crítica como um dos artistas mais atuantes no cenário nacional na divulgação e valorização da cultura de raiz brasileira. Com 27 CDs lançados, dois DVDs, livro e shows por todo o Brasil e diversos países como Portugal, Itália, China, Canadá, Argentina, Chile, Colômbia, o músico canta suas raízes e as conecta com nossa contemporaneidade. Folias, catiras, modas, batuques, causos e toques de viola, desfilam com alegria em suas apresentações. Venceu por quatro vezes consecutivas (2015, 2016, 2017 e 2021) o Prêmio Profissionais da Música como Melhor Artista Regional, prêmio que acontece anualmente em Brasília. O artista mantém em sua cidade natal o Instituto Chico Lobo, que desenvolve projeto de ensino de viola e cultura raiz para as crianças das zonas rurais na cidade mineira de São João Del Rey. Desde 2006 Chico Lobo mantém relação artística com Portugal no Encontro de Violas em parceria com o músico e parceiro português Pedro Mestre, representante maior da viola campaniça da região do Alentejo. Esse encontro gerou o CD Encontro de Violas e o DVD De Minas ao Alentejo dando vida a um encontro ainda maior que já vai para a 11° edição do Encontro de Violas de Arame. Chico Lobo, o representante brasileiro nesses encontros, já trouxe duas edições presenciais ao Brasil e uma virtual. Amizade e partilha pelas cordas da viola que une Brasil e Portugal. Em 2015 Maria Bethânia escolheu sua cantiga Criação, para compor o repertório de seu show e DVD Abraçar e Agradecer, comemorando os 50 anos de carreira. Depois Bethânia, gravou participação no álbum Viola de Mutirão, cantando a moda de viola Maria, que Chico Lobo fez em sua homenagem. Apresentador de TV, de rádio, produtor musical, escritor, cantor, o violeiro inquieto faz com que sua obra torne a aldeia global mais caipira.

 

Sobre a Kuarup

Especializada em música brasileira de alta qualidade, o seu acervo concentra a maior coleção de Villa-Lobos em catálogo no país, além dos principais e mais importantes trabalhos de choro, música nordestina, caipira e sertaneja, MPB, samba e música instrumental em geral, com artistas como Baden Powell, Renato Teixeira, Ney Matogrosso, Wagner Tiso, Rolando Boldrin, Paulo Moura, Raphael Rabello, Geraldo Azevedo, Vital Farias, Elomar, Pena Branca & Xavantinho e Arthur Moreira Lima, entre outros.