"Vou te mostrar algo que todo mundo faz", teria dito Michael Jackson a um garoto de dez anos, antes de pedir que o menino, já sem roupa, ficasse de bruços e apertasse os mamilos do cantor, enquanto ele se masturbava.

Aquilo foi o começo, conta o californiano Jimmy Safechuck, hoje aos 41 anos, em "Deixando Neverland", documentário de quatro horas que será exibido em duas partes na HBO neste fim de semana.

Na casa do músico, rancho de mais de mil hectares com zoológico, parque de diversões e trenzinho, Michael teria abusado do garoto no sótão, no fliperama, na torre do castelo, na sala de cinema, na cabana indígena... Quanto mais inacessível e afastado de adultos, melhor. "Não ser pego era fundamental. Ele falava que nossas vidas terminariam se soubessem", diz Safechuck.


A obra do diretor britânico Dan Reed, apoiada nesses dois depoimentos e nos de alguns dos parentes de seus autores, detalha não apenas o que teria se passado entre as quatro paredes, mas o comportamento insidioso do ídolo pop, que seduzia a todos com envelopes cheios de dólares e punha as crianças contra os seus pais.

Desde que o documentário estreou no Festival Sundance, em janeiro, o que se pondera é que o filme tem voltagem suficiente para implodir a carreira de qualquer grande artista. 

Mas diante de um músico já morto e com o porte de ser uma das maiores figuras da cultura do século 20, a questão fica mais nebulosa.