"Vamos enfrentar muita merda quando voltarmos ao Brasil", disse Wagner Moura, três horas antes de exibir seu primeiro filme como diretor, "Marighella", no Festival de Berlim. Ele se referia à repercussão que o longa vai gerar ao estrear no país. A história acompanha os últimos anos de vida do guerrilheiro de esquerda que pegou em armas contra a ditadura militar.

Estreia de Wagner Moura na direção, "Marighella" traz Seu Jorge no papel-título. A história, bastante radical, mostra como o revolucionário e seus jovens seguidores partiram para a guerrilha urbana e enfrentaram o aparato do governo militar, materializado na figura de um policial sanguinolento interpretado por Bruno Gagliasso. Em sua sessão de imprensa, realizada na quinta (14), a obra foi aplaudida.

Na conversa com jornalistas de vários países, no dia seguinte, predominaram perguntas sobre as relações entre o que o filme mostra o atual momento político do país.

"O filme não é resposta a nenhum governo específico", disse Moura. "Obviamente, pode ser lido assim até por ser um dos primeiros produtos culturais do Brasil que está em contraste com o grupo que está no poder."

Para Moura, o país vive hoje "uma situação horrorosa", com um presidente "abertamente racista e homofóbico."