Pesquisadores descobriram uma espécie de planta que só existe no Espírito Santo e só foi encontrada em duas cidades do estado: São Roque do Canaã e Santa Leopoldina.

 

A descoberta foi publicada em um artigo de uma revista científica da Inglaterra na sexta-feira (4).

 

A planta, batizada de Vitex Pomerana, recebeu esse nome em referência à população pomerana, que habita a região onde a planta foi encontrada.

 

“Nós quisemos fazer uma homenagem ao povo pomerano, originário de uma região entre a Polônia e a Alemanha, que imigrou para o Brasil e atualmente se concentra em alguns municípios do interior do Espírito Santo. Como a planta, por enquanto, é conhecida apenas para os municípios de São Roque do Canaã e Santa Leopoldina, que têm forte influência desse povo, com esse nome também fazemos referência à área de ocorrência da espécie”, explica o botânico Elton John de Lírio, descendente também de pomeranos.

 

O botânico conta que a planta foi encontrada perto da casa onde os pais moram.

 

“Eu sou nascido em Santa Leopoldina, cresci em Santa Maria de Jetibá, e essa planta foi localizada a poucos quilômetros da casa onde os meus pais moram. Homenagear o povo pomerano que foi de uma grande importância para a colonização desse local, sem duvida é muito gratificante” , comentou Elton.

 

A planta é da espécie tarumã, que são árvores que ocorrem geralmente em florestas. Mas essa descoberta cresce em áreas abertas sobre rochas, hábito incomum para os tarumãs da Mata Atlântica.

 

“Essa planta em questão é um arbustinho, baixinho, algo que não chega na nossa cintura, só ocorre em cima áreas de pedra aqui do estado, são muitas mas foi encontrado só em duas dessas pedras até então”, afirmou o biólogo pesquisador Cláudio Nicoletti de Fraga.

 

Os tarumãs, do gênero botânico Vitex, são representados por cerca de 250 espécies distribuídas em diversas regiões com clima tropical no planeta. No Brasil, eram conhecidas até então 34 espécies, mas agora pesquisadores brasileiros acabam de adicionar mais uma espécie a essa lista, o Vitex Pomerana.

 

Para o pesquisador e especialista na família da espécie da planta que foi descoberta, Guilherme de Medeiros Antar, a forma como a Vitex Pomerana se parece fez com que fosse mais fácil de identificar a espécie.

 

“A nova espécie que descobrimos é um arbusto, que cresce em áreas abertas sobre rochas, com folhas de apenas um folíolo. Esse tipo de hábito não é comum para tarumãs da Mata Atlântica, como é o caso dessa nova espécie, mas sim para tarumãs do Cerrado. Ainda, esse padrão de folha só ocorre em outras duas espécies brasileiras de Vitex, uma das áreas de pedra da Caatinga e uma outra da Floresta Amazônica, o que facilita o reconhecimento dessa nova espécie”, complementa Guilherme.

 

Segundo os pesquisadores essa espécie foi descoberta durante os estudos que o INMA, a UFES e o Jardim Botânico do Rio de Janeiro estão fazendo na região desde 2005, mas só agora pôde ser formalmente estudado e descrito.

 

A nova espécie mal foi descoberta e os biólogos alertam para seu risco de extinção e sugerem que a planta entre na ‘Lista de Espécies Ameaçadas do Brasil’ por estar sujeita a ameaças como incêndios, pressão de espécies invasoras e principalmente da extração não sustentável em seu habitat. A planta também não está em nenhuma Unidade de Conservação, o que aumenta o risco de extinção.

 

“A partir de agora, essa espécie que está ameaçada de extinção, a gente pode então desenvolver ações pra conservar esse espécie no local onde ela ocorre. O Espírito Santo é um estado muito rico e sem dúvida muitas espécies vão ser descobertas em breve”, finaliza o botânico Elton John.

 

Com a descoberta dessa espécie, o Brasil contabiliza 650 espécies de plantas com flores que só ocorrem na Mata Atlântica do Espírito Santo. Mas, de acordo com os autores do trabalho, esse número tende a aumentar à medida que estudos como este vão avançando.

 


 

Planta só foi encontrada em dois municípios do ES — Foto: Divulgação/INMA